Resumo: Terre du sucre [Terra do acar] foi o ttulo que recebeu a traduo sa da obra de Gilberto Freyre Nordeste (1936). Sem dvida, a expresso captou com preciso a essncia de uma das regies mais desiguais do mundo, comandada por uma diminuta elite econmica que, de forma intensa e duradoura, explorou os bens naturais (matas, rios, solos) e centenas de milhares de indivduos ao longo de cinco sculos. De fato, se a gramnea doce, geradora da chamada civilizao do acar, provocou profundas transformaes no modelo produtivo e nas paisagens dessa parte do Brasil, ela o fez seguindo uma ideologia que preconizava a mxima de que os fins (lucros sempre mais elevados) justificariam os meios (desmatamento, explorao de trabalhadoras e trabalhadores escravizados e livres, poluio do ar, contaminao dos cursos dgua...). Trabalho e ambiente, portanto, foram as bases sobre a qual se desenvolveu a agroindstria do acar. precisamente nesse contexto que se situa a proposta do presente Simpsio Temtico que busca reunir pesquisadoras e pesquisadores de diversas reas e disciplinas que investiguem as relaes entre sociedade-natureza e o mundo do trabalho em suas mltiplas dimenses (terica/conceitual, metodolgica e prtica); que abordem desde os modos de produo (e seus modelos produtivos) e seus impactos sobre o ambiente s condies de vida dos trabalhadores e trabalhadoras; que discutem as organizaes e movimentos polticos e sociais de proteo aos trabalhadores e ao ambiente, a histria das ideias, dos discursos e representaes.
Bibliografia:
1. ABREU E LIMA, Maria do Socorro. Construindo o sindicalismo rural: lutas, partidos, projetos. Recife: EdUFPE & Editora Oito de Maro, 2005.
2. ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1963.
3. DABAT, Christine Rufino. Moradores de engenho: estudo sobre as relaes de trabalho e condies de vida dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco, segundo a literatura, a academia e os prprios atores sociais. 2 Ed. Recife: EdUFPE, 2012.
4. WORSTE, Donald. Para fazer histria ambiental. In: Estudos Histricos. Vol. 4, n. 8, 1991.
5. FREYRE, Gilberto. Nordeste: aspectos da influncia da cana sobre a vida e a paisagem do Nordeste do Brasil [1936]. 7 Ed. So Paulo: Global, 2004.
6. MINTZ, Sidney. O poder amargo do acar: produtores escravizados, consumidores proletarizados. Organizao de Christine Rufino Dabat. Recife: Universitria, 2003.
7. ROGERS, Thomas. As feridas mais profundas: uma histria do trabalho e do ambiente do acar no Nordeste do Brasil. So Paulo: UNESP, 2017.
8. SCHWARTZ, Stuart. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial (1550- 1835). Trad. Laura Teixeira Motta. So Paulo: Companhia das Letras, 1999.
ST 19 - Sesso 1 - Sala 19 - Dia 16/09/2020 das 14:00 s 18:00 2b1oc
Local: Sala 19
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Arthur Victor Gonalves Gomes de Barros (Professor), Mrcio Ananias Ferreira Vilela (UFPE)
O Grupo de Estudos do Acar a partir da notcia: debates acerca de sua criao e repercusso na imprensa
Resumo:No ano de 1963, a Federao das Indstrias do Esta...
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Resumo:No ano de 1963, a Federao das Indstrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), atravs do seu presidente, o industrial e usineiro Renato Bezerra de Melo, instituiu o Grupo de Estudos do Acar (GEA). Este tinha como finalidade a promoo de estudos e pesquisas destinados ao melhoramento da produo aucareira, em Pernambuco, atravs de um planejamento global, orgnico e racional da agroindstria em questo. Logo nos primeiros meses de funcionamento, o GEA realizou uma srie de encontros com pesquisadores, tcnicos e usineiros interessados na proposta modernizadora qual se prestava o Grupo. Dentre as primeiras medidas estavam o levantamento aerofotogrfico, hidrolgico e pedolgico da Zona da Mara e o levantamento das bacias vertentes dos rios utilizados para a produo aucareira. Ao mesmo tempo, o trabalho desempenhado era amplamente noticiado pela imprensa local, que anunciava com entusiasmo a iniciativa de jovens industriais no combate aos problemas da agroindstria aucareira. Entusiasmo que reproduzia um novo ponto de vista sobre os velhos usineiros, agora tidos pela imprensa como jovens empresrios do acar destinados a lanar um plano da ofensiva privada contra os problemas da produo aucareira em Pernambuco. Esta comunicao, portanto, prope uma discusso sobre o estabelecimento do Grupo de Estudos do Acar, os seus primeiros atos e a sua repercusso na imprensa, especialmente atravs do jornal Diario de Pernambuco. Mais alm, a anlise se coloca como um indcio sobre o debate modernizador que, naquele momento, estava representado no somente nas discusses do Grupo de Estudos do Acar, mas era parte da conjuntura nacional e internacional, onde o progresso era representado pelos planejamentos da Sudene e pelos planos de desenvolvimento da Aliana para o Progresso, respectivamente. No ser possvel adentrar nesse campo de debate sem antes estar atento s armadilhas produzidas pelos discursos impressos, seja nos jornais ou nos documentos oficiais, e assim reduzir nossa anlise produo de uma histria oficial. Para tanto, se faz necessrio o aporte terico de uma historiografia j consolidada, em especial os debates sobre Estado, vistos em Karl Marx, Engels e Lnin como o resultado das contradies de classe. Da mesma forma que no ser possvel analisar o GEA sem contar com ponto de vista Gramsciano, onde o Grupo pode ser caracterizado como um rgo de classe com seus respectivos intelectuais do tipo urbano e empresrios capitalistas.
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Joana Maria Lucena de Arajo (Arquivo TRT/UFPE)
Trabalhadores Rurais e a Justia do Trabalho: O advento do ETR e as relaes de poder na Zona da Mata de Pernambuco (1963-1973)
Resumo:A lei n.4.214 que instituiu o Estatuto do Trabalh...
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Resumo:A lei n.4.214 que instituiu o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) foi criada para regulamentar a proteo do trabalhador do campo visando as relaes de trabalho e aspectos como a previdncia social e a sindicalizao rural. A aprovao da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) em 1 de maio de 1943 significou um acontecimento importante para os trabalhadores urbanos, mas no atendeu aos trabalhadores rurais. As normas estabelecidas na CLT s eram aplicadas aos trabalhadores do campo de forma excepcional. O que no os impediu de recorrer Justia quando tinham oportunidade. Outras normas existentes na poca, tais como o Decreto-Lei n 6.969 de 1944 e o Decreto-Lei n 3.855 de 1941 foram comumente ignorados, especialmente os artigos que versavam sobre a proteo do trabalhador rural.
Pode-se entender que o ETR tinha por objetivo, alm de regular contratos e normas trabalhistas, criar um arcabouo de proteo legal que inclua a previdncia social e a possibilidade de organizao sindical. O Estatuto engloba regras jurdicas do direito do trabalho, do direito processual do trabalho, do direito sindical e da previdncia social.
Isto posto, tomando como ponto de partida os artigos do ETR, refletiremos como se deu a aplicao das regras na pratica. Atravs dos processos trabalhistas da Junta de Conciliao e Julgamento de Nazar da Mata, a atuao de juzes, advogados, empregadores e empregados ser analisada, desde a problemtica da definio de trabalhador e empregador rural at a regulao do trabalho da mulher, do menor e os tipos de remunerao permitidos pela legislao.
Os processos fornecem indcios fundamentais de como a legislao era utilizada pelos trabalhadores rurais e como essas reivindicaes eram arbitradas pela Justia. importante analisar como a aprovao e implementao de um conjunto de leis interferiu nas relaes de trabalho, to marcadas por uma explorao com frequncia vista como uma questo cultural, na qual o patro aparece como senhor absoluto no apenas de suas terras, mas tambm daqueles que vivem nela. A regulao externa dessas relaes, sero vistas por muitos latifundirios da Zona da Mata Norte de Pernambuco como uma interferncia indevida do governo em seus assuntos favorecendo um clima de tenso entre trabalhadores, patres e os agentes da Justia.
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Lara Maria de Holanda Soares (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Condio dos trabalhadores: o desgaste da mo de obra consumida nos processos trabalhistas da JCJ Goiana/PE entre os anos 1960-1970
Resumo:A agroindstria aucareira foi grande no apenas e...
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Resumo:A agroindstria aucareira foi grande no apenas em termos econmicos, mas no volume de recursos e trabalhadores que consumiu. A condio da mo de obra era o desgaste, em termos antitticos de alimentao (fome e desnutrio), sade (doena) e condies de trabalho (acidentes), sob a dureza dos ritmos de trabalho e a violncia patronal (DABAT, 2012, p. 495). O objetivo deste trabalho apresentar alguns processos da Junta de Conciliao e Julgamento de Goiana/PE (JCJ Goiana/PE) de 1965 e incio dos anos 1970, que trazem aspectos da vida desses trabalhadores. Atravs da histria serial, foram analisados 535 processos de 1965, alm de alguns casos do trinio 1971-1973. Neles, h reivindicaes de auxlio-doena, seguro-sade, licena mdica, benefcio previdencirio e testemunhos de doenas decorrentes da jornada extenuante de desgaste dos corpos (BARROS SILVA, 2016). Houve casos em que o trabalhador reivindicava direitos como reintegrao ou salrio de dias suspensos e, em seu depoimento, revelava suas precrias condies de sade, como salrio insuficiente para atender s necessidades alimentcias (Processo JCJ Goiana/PE n 328/65) ou falta ao servio por motivo de doena, ou melhor, um acidente de trabalho (Processo JCJ Goiana/PE n 548/65). Em 1965, 11 processos tinham como objeto auxlio-doena ou licena mdica, sem considerar os que exigiam repouso remunerado, descanso, frias, fatores que impactam diretamente na vida dos trabalhadores. No trinio 1971-1973, 16 processos se referiam a salrio-doena, auxlio-doena, taxa de insalubridade, licena mdica. As leis de acidentes do trabalho no Brasil datam de 1919, 1934 e 1944. De carter urbano e industrial, no alcanaram os assalariados rurais. Em 1963, o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR) garantiu a esses trabalhadores medidas de higiene, segurana do trabalho e assistncia previdenciria, o que no significou que fossem cumpridas (FERREIRA FILHO, 2012). Nos anos 1960, Goiana, Zona da Mata norte pernambucana, modernizava sua agroindstria atravs de rgos como o Instituto do Acar e do lcool (IAA) (ANDRADE, 1994). A dcada seguinte foi de grandes aportes financeiros e tecnolgicos, como o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Acar (Planalcar) (ANDRADE, 1994). Em busca do milagre econmico, o Brasil se tornou o campeo mundial em acidentes de trabalho nos anos 1970. A inteno parece ter sido a de modernizar sem mudar as arcaicas estruturas de explorao vigentes (ANDRADE NETO, 1990, p. 297). O que Peter Eisenberg acuradamente concluiu sobre a economia aucareira no sculo XIX permaneceu vlido no sculo XX: a modernizao, no sentido de avano tecnolgico, no produziu transformaes reais, mantendo as condies de trabalho e existncia sem mudana (EISENBERG, 1977).
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Emerson Rodrigo Barreto de Andrade (UFPE)
O silncio dos arquivamentos na Justia do Trabalho de Goiana/PE (1967): Possibilidades interpretativas.
Resumo:O silncio dos arquivamentos na Justia do Trabalh...
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Resumo:O silncio dos arquivamentos na Justia do Trabalho de Goiana/PE (1967): Possibilidades interpretativas.
Aluno: EMERSON RODRIGO BARRETO DE ANDRADE
Orientadora: Christine Dabat (Docente/pesquisadora do Depto de Histria CFCH/UFPE)
Este trabalho parte da pesquisa de PIBIC "Anlise dos processos trabalhistas da Junta de Conciliao e Julgamento de Goiana (1967, 1968 e 1969) relacionados produo aucareira: as diferenas na situao na situao dos trabalhadores rurais e no rurais", que desenvolvo atravs do mtodo histria serial, a partir do acervo do Laboratrio Histria e Memria (LAHM/TRT6), na UFPE. Nele busco desenvolver uma discusso acerca do considervel nmero de arquivamentos de reclamaes trabalhistas por no comparecimento. A falta de justificativas para a ausncia dos reclamantes nos termos de arquivamento, balizada pela conciso de informaes das fontes e leituras de pesquisas sobre a regio em questo, abre vias para se pensar possibilidades interpretativas.
Tais leituras nos apresentam uma sociedade da Zona Canavieira pernambucana bastante marcada pela concentrao fundiria, explorao trabalhista e violncia patronal. Sobre esta, especialmente no sculo XX, estudos como os de Christine Dabat e Jos Marcelo Marques Ferreira Filho so eloquentes. Trata-se de um quadro social resultado de uma histria secular da produo aucareira nos moldes da plantation (da qual Goiana partcipe), s custas de trabalhadores escravizados e proletarizados, como percebe-se pelos trabalhos de Sidney Mintz e Manuel Correia de Andrade.
Para a construo do trabalho partirei de duas reclamaes: as de N 197.67 e 200.67. Ambas so de trabalhadores rurais, mas a primeira foi aberta por um morador de engenho e a segunda por um trabalhador rural que j vivia na cidade. Elas possuem reivindicaes em comum e foram movidas contra as duas usinas do municpio, mas acabaram arquivadas no contexto mencionado acima.
Por essas caractersticas, tais fontes me parecem possveis de serem analisadas levando-se em conta a incidncia das relaes de ordem tradicional sobre as de ordem jurdica, como discutido por Moema Miranda; mas principalmente o aspecto geogrfico da plantation aucareira nordestina, como defendido por Jos Marcelo Marques Ferreira Filho. Esse autor expandiu os horizontes de reflexo sobre a Zona Canavieira pernambucana ao articular a histria desta com conceitos da geografia, como espao e paisagem. No sentido de poder-se pensar, por exemplo, o medo e a violncia patronal como constituintes da paisagem aucareira apreendida pelos canavieiros (o que pode ser considerado junto com os conceitos de "laboring landscape" e "paisagem de cativeiro", de Thomas Rogers), influenciando na relao desses atores sociais com a Justia.
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Olvia Maria Gomes de Oliveira (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Ameaa e coao: um estudo de caso da violncia patronal canavieira a partir dos autos da Justia do Trabalho em Escada/PE (1974)
Resumo:Este trabalho fruto do projeto de PIBIC: Anlis...
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Resumo:Este trabalho fruto do projeto de PIBIC: Anlise dos processos trabalhistas da Junta de Conciliao e julgamento de Escada (1974-1976): Relaes de trabalho entre empregados e os empregadores na Zona canavieira. A referida pesquisa realizada a partir de levantamento processual no TRT da 6 Regio, no mbito da Universidade Federal de Pernambuco.
Para compor o recorte do Simpsio Temtico fora selecionado o processo 284 referente Junta de Julgamento e Conciliao (JCJ) de Escada de 1974. O reclamante caminhoneiro do sexo masculino, residiu no Engenho L, e suas reivindicaes foram: aviso prvio; indenizao; prejulgado 20; frias; 13o salrio; repouso remunerado; dias santos; feriados. O reclamante alega que fora ameaado pelo representante patronal do engenho, que utilizou de um revlver para for-lo a trabalhar em seu dia de folga e, logo aps o ocorrido, fora demitido. O processo tem durao de um ano e sentenciado como procedente em parte.
A violncia uma frequente na vida dos trabalhadores, e esta fundada, principalmente, em um jogo de interesses econmicos, como bem explorado por Christine Dabat. As dimenses mais drsticas da violncia patronal assassinato dos trabalhadores tinham em suas motivaes razes econmicas e conflito de interesses, com os trabalhadores reclamando seus direitos devidos, e sofrendo pela sua ousadia.
A formulao do Estatuto do Trabalhador Rural (ETR), mesmo tardia, garantiu os direitos trabalhistas para o campo. Com o Estatuto, os trabalhadores sentiram-se mais seguros para cobrarem seus direitos na Justia. Contudo, mesmo com o respaldo da lei, transgresses ainda ocorriam cotidianamente. No caso do processo 284.74, alm das queixas acerca dos direitos trabalhistas, ainda tratado uma ameaa com arma de fogo pelo representante patronal do engenho. Todavia, como no se pressupe violncia no ambiente de trabalho, o ETR no trata destas questes, sendo estas da previstas no Cdigo Penal ().
Conforme afirma o artigo 147 do (Decreto de Lei 2.848/1940): Ameaar algum, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simblico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - deteno, de um a seis meses, ou multa. A ameaa vista como um crime de potencial ofensivo menor. O porte da arma de fogo no se adiciona como agravante para o crime, visto que apenas em 2003 ocorrer o Estatuto do Desarmamento (Lei n 10.826/2003), at ento o porte era permitido.
luz do que foi exposto, o presente trabalho tem como pretenso demonstrar, a partir da ameaa relatada no processo 284.74, a violncia patronal na zona canavieira. Assim como, tenciona-se gerar uma reflexo perante a relao entre a violncia patronal e as questes econmicas concernentes a zona canavieira.
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Lidineide Vieira da Costa (Servio Social da Indstria)
Reclamando, afirmando e ampliando direitos trabalhistas: as demandas dos canavieiros no Agreste e Brejo paraibano entre 1980 e 1987
Resumo:O presente artigo visa comunicar alguns resultados...
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Resumo:O presente artigo visa comunicar alguns resultados alcanados no percurso do mestrado, junto ao Programa de Ps-Graduao em Histria, da Universidade Federal da Paraba (PPGH-UFPB), na linha de pesquisa Histria e Regionalidades. Dessa forma, tem-se como objetivo discutir a luta dos trabalhadores rurais assalariados na cana-de-acar, localizadas na Mesorregio Homognea do Agreste e Brejo Paraibano, entre os anos de 1980 e 1987, bem como apresentar as principais demandas pleiteadas atravs do Judicirio trabalhista. Os espao subscrito, alinhado com toda a zona canavieira da Paraba, foi cenrio para o nascimento de conflitos envolvendo os direitos trabalhistas, at ento pouco usuais/conhecidos na regio, direitos estes que foram reivindicados em lugares pblicos e de trabalho, envolveram setores da sociedade (Igreja Catlica, movimento sindical, etc.), bem como tambm ocuparam as salas dos tribunais trabalhistas, visando o seu cumprimento. Atrelado a tal movimento, as dcadas de 1970/80 estiveram marcadas, na regio em estudo, por mudanas no setor sucroalcooleiro estimuladas por incentivos fiscais e creditcios dos governos militares, o que acabou por promover uma modernizao conservadora na atividade canavieira, com insero de maquinrios e expanso das reas cultivadas, mas com preservao e remodelamento da formas de explorao da classe trabalhadora rural. Logo, em meio a esse quadro, o direito e as leis se apresentam como uma arena de luta possvel a classe emergente dos canavieiros, logo, acabou por construir narrativas essenciais para a anlise dos mundos do trabalho. Visando melhor expor os caminhos aqui postos, a discusso da temtica apoia-se no uso de relatrios, documentos iconogrficos e cartazes do acervo do Servio de Educao Popular (SEDUP), localizado na cidade de Guarabira-PB; dos processos trabalhistas preservados no acervo do Ncleo de Documentao Histrica do Centro de Humanidades da Universidade Estadual da Paraba (NDH-CH/UEPB); e do peridico A Unio. As referidas fontes e a narrativa constituda inscrevem-se nas discusses da Histria Social do Trabalho, dialogando com concepes do Direito trabalhadas por E. P. Thompson, entre outros.
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Christine Paulette Yves Rufino Dabat (UFPE)
Um dia muito especial em Recife: o segundo Acordo do Campo (1987)
Resumo:Um dia muito especial em Recife: o segundo Acord...
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Resumo:Um dia muito especial em Recife: o segundo Acordo do Campo (1987)
Christine Dabat
Depto de Histria UFPE
O Acordo do Campo de 1963 marcou muito as memrias em Pernambuco, no mbito poltico e sobretudo na memria dos trabalhadores rurais da zona canavieira.
Mudanas repletas de esperanas ocorreram no Longo Ano de 1963, ttulo escolhido pelo historiador Jlio Barros para o Caderno de Histria UFPE reunindo artigos sobre este perodo que comea no final de 1962 e vai at o golpe. Foram eventos e desdobramentos de extrema importncia para os cortadores e as cortadoras de cana o Estatuto do Trabalhador Rural, a Tabela de Tarefas (Barros 2013) e a greve que levou a um reajuste importante no salrio, concludo pelo chamado Acordo do Campo (Page 1989).
Setenta e cinco anos depois da Abolio da escravido, foram os primeiros os rumo cidadania para o maior contingente de assalariados e assalariadas do estado, criadores/as da riqueza primordial da regio (Abreu e Lima 2005). O papel indito das autoridades do Estado, particularmente na pessoa do governador Miguel Arraes, tornou possvel no apenas as negociaes entre patronato e assalariados rurais, como deu uma forma sem precedente celebrao da conveno.
Precisamente, as modalidades cerimoniais deste evento memorvel marcaram os espritos dos presentes e nas narrativas a respeito deste dia especial, para retomar o ttulo do filme famoso de Ettore Scola: pela primeira vez, trabalhadores rurais entraram como convidados no Palcio das Princesas. Com a volta de Miguel Arraes ao governo do estado na redemocratizao, por meio das eleies de 1986, a negociao da conveno coletiva de trabalho para esta categoria, em 1987, e sua resoluo, aps uma greve, resultou numa solenidade carregada de associaes com o saudoso Tempo de Arraes (Callado, 1980) rememorado, mesmo que subreptiamente, durante os anos sombrios da ditadura militar.
Doravante, depois da Nova Repblica e do Muda Nordeste encerrado no Teatro Santa Isabel com a presena de Tancredo Neves e, s vsperas da promulgao da nova Constituio, esperanas eram levantadas no sentido de retomar o processo poltico e social, interrompido pelo golpe, de melhoria nas condies de vida e de trabalho dos canavieiros entre outros. A deste segundo Acordo do Campo foi realizada no Salo Nobre do Palcio das Princesas, onde era palpvel esta grande expectativa entre os lderes do Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (CONTAG, FETAPE e STRs).
Neste sentido, a volta do acontecimento, caro uma ala importante da historiografia, permite a evocao de um elemento pontual da histria social do trabalho na regio canavieira com algum destaque para os sentimentos e as emoes dos/as trabalhadores/as envolvidos/as.
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ST 19 - Sesso 2 - Sala 19 - Dia 17/09/2020 das 14:00 s 18:00 136h2j
Local: Sala 19
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Vicente Paulino de Lima Neto (UNICAP - Universidade Catlica de Pernambuco)
Histrico do Forte Orange da Ilha de Itamarac PE
Resumo:A Histria do Brasil pode ser visualizada pelo rec...
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Resumo:A Histria do Brasil pode ser visualizada pelo recorte feito sobre a trajetria da Ilha de Itamarac, municpio situado a 34 quilmetros da cidade do Recife, capital de Pernambuco. Seu patrimnio composto de equipamentos naturais e edificaes histricas que pontuam a evoluo da sociedade brasileira, reunindo momentos do incio da colonizao do pas pelos portugueses, a tentativa sa de demarcar sua influncia, ando pela interveno holandesa na colnia com destaque acentuado capitania de Pernambuco - e, finalmente, pelo uso contemporneo do local pelos pernambucanos. Em meio a esse panorama, destaca-se a construo e o uso carregado de smbolos do Forte de Santa Cruz de Itamarac, tambm conhecido por seu nome de batismo holands, Forte Orange (1631), que sucedeu a Feitoria da Ilha de Itamarac, erguida pelos portugueses nas primeiras dcadas aps a chegada de Pedro lvares Cabral ao territrio sul americano.
O uso inicial do local como ponto estratgico se deu pelas mos de Cristvo Jaques que, a mando de D. Joo III, ergueu a primeira feitoria portuguesa no nordeste brasileiro, em 1516 (mesmo ano de construo do primeiro engenho de acar do continente), batizada de Santa Cruz, tal como o canal que dava o ao mar, que seria destinada a servir de apoio militar e comercial da rota lusitana na explorao das riquezas brasileiras e defesa do territrio contra estrangeiros que se interessavam pelo local.
Anos depois, em 1534, Itamarac se torna uma das capitanias hereditrias originais, com sede em Vila Velha e istrada primeiramente pelo donatrio Pero Lopes de Sousa. Esse marco de povoao territorial demonstrava, entre outras circunstncias, a iniciativa da Coroa Portuguesa de manter sua nova colnia vigiada por co-cidados lusitanos, haja vista as investidas sas num Brasil recm-descoberto pela Europa. Frise-se que entre o fim dos anos 20 e incio dos 30 do sculo XIV, colonizadores ses intentavam esforos entre os atuais Estados de Pernambuco e Bahia. Esse litgio culminou na destruio da Feitoria de Igarassu, que foi reerguida por portugueses dominados por ses em 1530, tendo recebido o nome de le Saint Alexis. A chegada de um donatrio foi motivada pela manuteno da posse portuguesa sobre a colnia, que ainda no tinha demonstrado todo seu potencial Coroa, mas precisava ser preservada contra outros interessados. Durante os cem anos seguintes, houve o desenvolvimento da rea, como consequncia do vultuoso crescimento do ciclo do acar na regio e demais insumos da fauna e da flora contrabandeados para pases europeus.
Em 1630, os holandeses chegam ao local e intentaram esforos para domin-lo blica e comercialmente, com o fulcro de controlar o mercado do acar na Europa. A estratgia militar se norteou no sentido de estabelecer domnio na entrada do Canal de Santa Cruz, zona de trfego aquavirio responsvel pelas trocas comerciais entre Brasil e Europa. Vale ressaltar que o perodo holands reconhecido como a fase desenvolvimentista de Pernambuco. Nesse nterim, a mando do Tenente Coronel Steyen Callenfels, ergueu-se um forte de taipa de pilo (posteriormente revestido de pedras) sob a conduo do engenheiro Pieter Van Bueren, situado nas coordenadas de 007 48 e 38.6 de latitude sul e 034 50 e 22.0 de longitude oeste, e batizado em tributo Casa real de Orange-Nassau como Forte Orange. poca, Maurcio de Nassau era sobrinho do prncipe Frederico Henrique de Orange, receptor da honraria por ocasio do nome da fortificao.
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Felipe dos Santos Silva (UFAL - Universidade Federal de Alagoas)
O mundo das criaturas brutas e o reino dos homens: istrao e usos da natureza na comarca de Alagoas, Pernambuco (1789-1799)
Resumo:A presente pesquisa tem como objetivo analisar as ...
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Resumo:A presente pesquisa tem como objetivo analisar as relaes estabelecidas entre os agentes da istrao lusitana e a natureza da comarca das Alagoas, capitania de Pernambuco, entre os anos de 1789 e 1799. O recorte temporal est ligado ao momento da criao da Conservadoria das Matas de Alagoas, instituio formalizada pela metrpole e que foi responsvel pela demarcao, fiscalizao e distribuio das madeiras da comarca alagoana. Para perceber os meandros das aes humanas sobre a natureza, recorre-se aos sujeitos que participaram ativamente das disputas envolvendo o domnio das terras, madeiras e plantas, como por exemplo o ouvidor-geral da comarca das Alagoas, Jos de Mendona de Matos Moreira e o governador da capitania de Pernambuco, D. Toms Jos de Melo. Dessa maneira destaca-se as diretrizes istrativas emanadas de Portugal (principalmente a Secretaria de Estado e Negcios Ultramarino) no contexto da Ilustrao Absolutista e, sobretudo, as atividades exercidas pelos funcionrios da Coroa em Pernambuco que buscaram istrar e controlar o mundo das criaturas brutas. Nesse sentido, ao se debruar sobre essas estruturas istrativas e de poder, se permite compreender como a sociedade luso-brasileira do sculo XVIII enxergava a natureza e, de que maneira, a mesma foi usada como um elemento fundamental para o progresso de Portugal setecentista; sendo utilizadas quase em todos os setores da sociedade, mas, sobremaneira, na indstria naval de Pernambuco, Bahia e Lisboa. Portanto, para auxiliar a reflexo e constituir a anlise proposta, a pesquisa se valeu dos respectivos acervos documentais que se encontram no Arquivo Histrico Ultramarino (AHU), no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro (IHGB) e na Biblioteca Nacional (BN).
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Samir Lola Roland (CESTE)
O processo de sobreposio territorial portuguesa e os indgenas da fronteira sul e leste do Estado do Maranho (primeiras dcadas do sculo XVIII)
Resumo:As campinas orientais do Maranho e ocidentais do ...
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Resumo:As campinas orientais do Maranho e ocidentais do Piau, fronteira sul e leste do Estado, de um lado, dominada pelos rios Mearim, Munim, Pindar, Itapecuru, Iguar, e de outro, pelo rio Gurgueia, So Francisco, foram alvo da expanso da fronteira de conquista e ocupao luso-maranhense e luso-pernambucana e baiana, desde o final do sculo XVII e que se estendeu durante a primeira metade do XVIII. Configurou-se a uma nova organizao territorial sobre os territrios indgenas, tornando-os espao colonial a partir da implantao de criatrios de gado e instalao de engenhos de acar. De fato, essa regio se constituiu como um cenrio representado pelas autoridades rgias, istrativas e militares, a partir dos diversos conflitos e alianas entre moradores e naes indgenas, pelas reas destinadas plantao de cana-de-acar e, principalmente, para a criao de gado vacum e cavalar. A expanso da conquista e ocupao na parte oriental do Maranho e no Piau dependia da poltica adotada pelos governadores para a defesa das reas at ento conquistadas e ocupadas pelos luso-maranhenses e luso-baianos. A poltica adotada pelos governadores do Estado do Maranho e do Estado do Brasil se constituiu em aes empreendidas por militares e religiosos que tinham como estratgia principal o combate e o extermnio dos indgenas hostis que estavam invadindo a fronteira e causando o desastre das povoaes ali estabelecidas ou o estabelecimento de aldeamentos que funcionavam, sobretudo, como base militar e religiosa, tendo um papel extremamente importante para a conquista, no sentido de defender e proteger o o regio. Durante os governos de Cristvo da Costa Freire e Bernardo Pereira de Berredo, o combate e o extermnio dos indgenas que na opinio dos governadores e autoridades rgias, estavam causando o desastre das povoaes ali estabelecidas tornou-se, a poltica mais adotada para a ampliao da conquista e o fortalecimento das instituies istrativas e religiosas na regio. Um dos mecanismos mais utilizados no perodo da conquista e ocupao vivenciado pelos governos de Cristvo da Costa Freire e Bernardo Pereira de Berredo, para a defesa e manuteno das povoaes e estabelecimentos econmicos foram as chamadas guerras justas contra os indgenas ou gentios brbaros que hostilizavam os povoamentos coloniais.
Palavras-chave: Ocupao. Fronteira. Resistncia indgena.
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Cleidiane de Oliveira Lima
Atuao de pequenos agricultores baianos e o surgimento da APAEB (1973-1980)
Resumo:A Associao dos Pequenos Agricultores do Estado d...
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Resumo:A Associao dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia (APAEB) foi fundada em 1980 com auxlio do Movimento de Organizao Comunitria (MOC) depois que agricultores de onze cidades baianas, entre elas Anguera, Araci, Biritinga, Corao de Maria, Feira de Santana, Ichu, Nova Soure, Santa Brbara, Serrinha, Valente e Teofilndia, se articularam na tentativa de pedir iseno do Imposto sobre Circulao de Mercadorias (ICM) ao governador do estado alegando a impossibilidade de pagarem o imposto pela explorao sofrida no campo de onde provinha sua forma de sobrevivncia.
Aps essa mobilizao, os agricultores resolveram fundar uma associao com sede em Serrinha e filiais em Valente, Ichu, Feira de Santana e Araci, na tentativa de defender seus interesses enquanto classe, mas aquela que mais se destacou foi a de Valente, por ter se dedicado ao cultivo do sisal, principal atividade econmica no municpio no perodo.
O grupo organizado formalmente em torno da APAEB em 1981 em Valente integrou majoritariamente militantes que travaram suas lutas na dcada de 1970 nas comunidades rurais da cidade por meio das Comunidades Eclesiais de Base e auxiliados por padres italianos; posteriormente concentraram seus esforos na conquista da liderana do Sindicato dos Trabalhadores Rurais que, por sua vez, cruzaram suas trajetrias na associao onde desempenharam papis de destaque. Assim, o trabalho tem como objetivo compreender as motivaes que levaram cerca de 400 camponeses baianos se deslocarem numa comitiva at a capital da Bahia e os desdobramentos que essa mobilizao causou. Segundo algumas fontes, episdio se configurou como a primeira grande mobilizao camponesa baiana aps o golpe civil militar de 1964. Em Valente a APAEB cresceu e ganhou notoriedade a nvel nacional e internacional.
Palavras-chave: APAEB. Valente. Pequenos agricultores.
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Rivaldo Amador de Sousa (Secretaria de Educao do Municpio de Lucena-PB)
O espetculo da pobreza na plantation canavieira da Paraba (1950-1985)
Resumo:
Durante a segunda metade do sculo XX a concentr...
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Resumo:
Durante a segunda metade do sculo XX a concentrao fundiria nas reas da plantation aucareira na regio Nordeste cresceu progressivamente. Na Paraba, onde parte de engenhos de rapadura e cachaa e a criao e ampliao de usinas de acar e destilarias aumentaram ainda mais essa concentrao. Com a modernizao das usinas de acar e a criao de destilarias aumentou ainda mais a demanda pela matria-prima para a fabricao do acar, promovendo uma grande ampliao das reas de plantao de cana-de-acar. Este processo de expanso intensificou ainda mais a expulso de moradores de engenho e fazendas de suas casas, situao que j vinha acontecendo, se intensificou ainda mais em fins da dcada de 1960, obrigando muitos destes trabalhadores a migrarem para os centros urbanos, onde se formavam cintures de misria. As mesorregies da Zona da Mata e Agreste paraibano concentravam uma mdia de oito usinas de acar durante o perodo de 1950 a 1985, surgindo nas dcadas de 1970 e 1980 algumas destilarias financiadas por recursos pblicos. Enquanto isso, tanto nas periferias urbanas quanto no campo concentrava uma grande massa de trabalhadores rurais que era a mo de obra exclusiva daquelas unidades produtivas. A proposta dessa comunicao promover uma discusso em torno da misria e da pobreza que se aprofundou ainda mais nessas reas especficas durante aquele perodo sem qualquer surgimento de polticas pblicas que oferecesse alguma soluo para a diminuio dessa visvel e crescente desigualdade social. As evidncias dos documentos histricos (oralidade, fotografias, processos trabalhistas, jornais, relatrios, atas sindicais etc) apresentam diferentes elementos que revelam o quadro de pobreza que vivia a maioria das populaes da zona canavieira. Alm das precrias condies de trabalho em que se encontravam submetidos muitos trabalhadores e trabalhadoras rurais, tambm eram sofrveis e minguadas as suas condies de vida, se constituindo, verdadeiramente, num espetculo da pobreza naquelas mesorregies. A visibilidade dessas condies se apresentavam nas habitaes de pau a pique, no profundo quadro de fome e desnutrio de crianas, na ausncia de lazer, no alto ndice de analfabetismo, na presena de epidemias como esquistossomose e precrias condies sanitrias entre outras.
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Ademir Bezerra de Melo Junior (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
A luta das populaes da zona canavieira contra a dependncia do latifndio: algumas notas sobre a naturalizao da condio de trabalhador rural
Resumo:Uma observao atenta das relaes de trabalho ain...
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Resumo:Uma observao atenta das relaes de trabalho ainda hoje vigentes na zona canavieira de Pernambuco impe o reconhecimento de que uma longa histria de violncia e represso foi necessria para submeter uma parcela da humanidade situao de dependncia subjacente condio de trabalhador assalariado. Partindo desse fato, essa comunicao procura problematizar a condio de trabalhador rural, sugerindo que as lutas sociais vivenciadas no meio rural de Pernambuco ao longo da dcada de 1950, que contestavam a concentrao fundiria, apresentavam uma perspectiva diversa para essa populao, ao vislumbrar outras possibilidades de vida e trabalho que no estavam relacionadas diretamente com lida no canavial nem se inseriam nos limites do trabalho assalariado sob domnio de grandes proprietrios rurais. Nesse sentido, a luta pela Reforma Agrria, baluarte de instituies como as Ligas Camponesas, representa a luta dessa populao contra a submisso ao proprietrio capitalista e, concomitantemente, prpria condio de trabalhador rural. Para sustentar essa argumentao procuramos elencar algumas discusses presentes em materiais das Ligas Camponesas e em matrias do Jornal Terra Livre, publicao do Partido Comunista Brasileiro voltada organizao dos trabalhadores do campo no pas, todas circunscritas dcada de 1950. Esses documentos nos permitem perceber que naqueles anos eram formulados projetos de futuro que, ao questionar de sada o carter privado e concentrado da propriedade, desnaturalizavam a prpria relao de trabalho. Nesse sentido, essa discusso nos parece fundamental, por exemplo, para a reflexo acerca das experincias posteriores dos trabalhadores rurais no mbito da Justia do Trabalho, visto que revela como os fundamentos sociais dessas normas jurdicas, que balizam essa instituio, partem da naturalizao dessa relao de trabalho, que nos marcos do discurso legal aparece inclusive como Direto desses indivduos, fazendo desaparecer o fato de que apenas um processo histrico particular pode converter uma determinada condio social, decorrente de um longo percurso de explorao e violncia, em Direito daqueles indivduos objeto dessa explorao e violncia. Se considerarmos as permanncias dessas relaes, tomando como objeto as atuais condies de trabalho na zona canavieira de Pernambuco, essa problematizao no carece de sentido. Assim, a presente comunicao apenas apresenta um questionamento que no nos parece desimportante em face da histria dessa regio e das lutas que as classes despossudas levaram a cabo ao longo do perodo e que, em face das atuais circunstncias, nos parecem absolutamente vivas.
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Reginaldo Jos da Silva (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
A disputa e a reverso das palavras como estratgias de resistncia das Ligas Camponesas
Resumo:Iniciadas no Engenho Galileia, em Vitria de Santo...
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Resumo:Iniciadas no Engenho Galileia, em Vitria de Santo Anto, Zona da Mata de Pernambuco, no ano de 1955, sob o nome de Sociedade Agrcola e Pecuria dos Plantadores de Pernambuco (SAPPP), as Ligas Camponesas foram o principal movimento social agrrio do Brasil antes do golpe militar de 1964. Aps sua primeira vitria, a desapropriao do Engenho Galileia, em 1959, a SAPPP foi denominada, pelos jornais pernambucanos, de Liga Camponesa de Galileia. O objetivo era, com essa denominao, associar a SAPPP s antigas Ligas Camponesas do Partido Comunista Brasileiro (PCB), extintas em 1947, inserindo as aes da SAPPP no discurso anticomunista da poca. Contudo, a SAPPP assumiu para si o nome de Liga Camponesa de Galileia, iniciando uma estratgia que iria fazer parte de sua atuao, daquele momento em diante: a disputa pelas palavras e a reverso de seus sentidos. Disputava-se o ttulo Ligas Camponesas, revertendo o seu sentido, relacionando-o aos movimentos que, ao longo da histria, lutaram contra a opresso no campo. O mesmo processo de disputa e reverso viria a acontecer com outras palavras, quando as Ligas receberam, por parte de seus opositores, ttulos como radicais, agitadoras, comunistas etc. O presente artigo prope, como objetivo, analisar como as Ligas Camponesas disputaram e reverteram palavras, criando, com isso, uma estratgia de resistncia na luta pela reforma agrria e contra a opresso de camponeses e camponesas explorados e exploradas nos latifndios, sobretudo engenhos e usinas, entre os anos de 1960 e 1964. Os argumentos do artigo estaro fundamentados nas discusses feitas por dois autores. Um deles Antonio Montenegro, que aborda as estratgias de contra-discursos e de inveno das palavras como integrantes das lutas dos movimentos sociais para enfrentar e superar as opresses. Ou outro Carlos Rodrigues Brando, que trabalha a reverso das palavras como uma estratgia pedaggica criada pelas classes populares para resistir. As anlises de documentos escritos do movimento, reportagens de jornais impressos e entrevistas com ex-integrantes das Ligas constituem a metodologia escolhida para a produo deste artigo. A tcnica de anlise aplicada foi a anlise de contedo, por meio da qual se procurou investigar minuciosamente os contedos presentes nas fontes escritas e orais, buscando o sentido e as intenes das palavras e frases, identificando o que essencial e selecionando as ideias principais para o objetivo deste artigo.
Palavras-chave: Ligas Camponesas, Movimentos Sociais, Resistncia.
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ST 19 - Sesso 3 - Sala 19 - Dia 18/09/2020 das 14:00 s 18:00 2h704y
Local: Sala 19
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Rosemria de Assuno Palmeira (TJPE)
Teatro Santa Isabel: valores estticos e escolhas polticas no Recife do sculo XIX
Resumo:Este artigo analisa a construo do Teatro Santa I...
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Resumo:Este artigo analisa a construo do Teatro Santa Izabel em meados do sculo XIX, na cidade do Recife. No entanto, buscamos discutir aqui no apenas o fato de que esta construo esteve associada s transformaes urbanas que vinham sendo implementadas neste perodo em algumas cidades brasileiras, mas, sobretudo, elaborar uma reflexo sobre como esta construo marca novas possibilidades de experincias urbanas que se constroem muito mais a partir de uma perspectiva local, do que propriamente da incorporao de padres europeus de modernidade. Na esteira deste pensamento, tomamos o Teatro Santa Isabel como um personagem que nos ajuda a iluminar aspectos particulares de nossa Histria. Para isto, estabelecemos como recorte temporal os anos que se seguem desde a sua construo at sua inaugurao (1841 1850). Apoiamo-nos em fontes histricas retiradas tanto de Jornais da poca como de Relatrios e de Leis Provinciais nas quais o prprio governo do perodo estudado buscou apoio para o desenvolvimento da construo. Da concepo de um projeto at a realizao da obra, entrava em cena no apenas um somatrio de saberes especializados sobre o esquadrinhamento do espao, inserindo no s o trao tcnico do especialista, mas, sobretudo, um aglomerado de saberes e posies que am a formar um conjunto de concepes polticas sobre a organizao e funcionamento de equipamentos e edifcios pblicos que iro impactar de forma significativa no s a concretude do espao, mas a subjetividade dos homens inseridos neste recorte de espao-tempo para viabilizar o projeto de construo do Teatro. Construo que marcou no somente uma mudana esttica no espao urbano da provncia pernambucana, mas, uma edificao que se insere num contexto de ressignificao da experincia urbana. Nesse sentido, a inaugurao do teatro marca um primeiro o na constituio de novas formas de sociabilidade que vo sendo constitudas tendo como pano de fundo o cenrio urbano. Assim, o Teatro ou a representar no s um lugar de apresentaes e espetculos, mas, sobretudo, um espao projetado para a interao de uma classe social especfica. Logo, a ida ao teatro constituiu tambm uma estratgia subjetiva de incorporao de um estilo de vida que se pauta pelo refinamento dos hbitos, pela frequncia em espetculos e atividades de lazer que, ao mesmo tempo em que se aproxima de um estilo de vida europeu marca tambm mecanismos de diferenciao sociais que atravessam o plano urbano.
Palavras-chave: Patrimnio; Modernidade; Sociabilidade.
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Eliza Brito Santos (Universidade do Porto)
O Caf Ruy e o Recife da segunda metade do sculo XIX
Resumo:Em meados do sculo XIX, a cidade do Recife cresci...
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Resumo:Em meados do sculo XIX, a cidade do Recife crescia e desejava se civilizar. Este processo de modificaes estruturais e mudanas econmicas, polticas, sociais e culturais foi acompanhado pelo surgimento de algumas inovaes, a exemplo do surgimento de teatros, eios pblicos, mercados e tambm cafs, restaurantes e hotis-restaurantes que, ao longo dos anos, se transformaram em importantes espaos de gastronomia e sociabilidades da cidade. O Caf Ruy foi um dos estabelecimentos do tipo mais longevos e mais citados em peridicos do Recife do sculo XIX, local onde as sociabilidades de homens de diferentes origens sociais eram atreladas apreciao de pratos e bebidas. Conhecer a histria desse espao gastronmico entender sobre a prpria histria do Recife. tambm compreender o processo de modernizao pelo qual ava a capital pernambucana, principalmente a partir da segunda metade do Oitocentos. O surgimento de novos bairros, as modificaes nas formas de circular na cidade, as construes modernizantes convivem com a mudana de hbitos e costumes, alm do surgimentos de novos divertimentos e diferentes espaos de socializao dessa sociedade recifense que se aburguesava e procurava seguir os moldes europeus, principalmente ses e ingleses de esttica. Para ser moderno era preciso seguir o modelo cientificista e higienista europeu. O Caf Ruy surge neste contexto social e ajuda a construir essa cidade "moderna" e "adequada" aos novos tempos. preciso olhar para este espao de gastronomia e sociabilidades como forma de resgatar a memria e o patrimnio cultural, social e gastronmico do Recife. Uma cidade para alm das famosas lutas libertrias, como j tanto se escreveu, mas, sobretudo, um Recife que crescia e procurava oferecer novos hbitos, imitando os europeus.
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Felipe Rodrigues de Souza (UFF - Universidade Federal Fluminense)
Punio e fuga: Os castigos como impulsionadores da libertao - uma anlise a partir do jornal Monitor Campista da dcada de 1850.
Resumo:O objetivo do presente trabalho analisar as cara...
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Resumo:O objetivo do presente trabalho analisar as caractersticas fsicas da populao cativa a partir das fugas noticiadas no jornal Monitor Campista, limitando-se dcada de 1850 (mais especificamente aos anos de 1851, 1854, 1855, 1856, 1857, 1858 e 1859, tendo em vista que alguns anos da referida dcada se perderam com o tempo). A hiptese engendrada a de que os castigos fsicos e psicolgicos eram grandes motivadores para a realizao das fugas dos escravos.
Cremos que as notcias que visavam recapturar os escravos fugidos sejam timos parmetros quando se busca analisar as caractersticas fsicas dos escravos, tendo em vista a vontade do seu senhor de encontrar sua propriedade e, por isso, concentrando-se ao mximo nas marcas que poderiam identific-la. Todavia, quando nos referimos s marcas de maus-tratos, mais relevantes para este trabalho, podemos questionar sua fidelidade nas descries, devendo, pois, termos a percepo de uma dubiedade existente entre esconder as marcas e correr o risco de jamais encontrar seu escravo ou as divulgar fielmente e ser acusado de castigar seus escravos em demasia. Acredita-se que tais excessos podiam no ser vistos com bons olhos pela sociedade do perodo imperial, principalmente na dcada que se atm essa pesquisa (no qual j havia grande presso internacional pelo fim da escravido), prova disso so os esforos da Coroa, limitados e questionveis vale ressaltar, de controlar os castigos excessivamente cruis.
Entretanto, acreditamos que a necessidade de recuperar, na maioria das vezes, sua principal fonte de renda impulsionavam os senhores a serem os mais fiis possveis nas descries, o que nos possibilita apreender, a partir de uma anlise quantitativa e qualitativa, se os escravos foragidos tendiam a serem os mais maltratados pelos escravistas. Como compreende-se que os castigos fsicos no eram os nicos a serem usados como forma de coao, podemos tambm observar os castigos de esfera psicolgica como, por exemplo, separao de parentes que vez ou outra mencionada nas notcias.
Para que tal objetivo seja alcanado, foram planificadas todas as informaes extradas dos anncios de fugas em Campos dos Goytacazes na referida dcada do sculo XIX, dando maior ateno s suas caractersticas fsicas. Sendo assim, essa pesquisa busca analisar a relao entre castigos e fugas na regio, na dcada de 1850.
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Renata Borba Cah Siqueira
"Levantem e brilhem": os trabalhadores e trabalhadoras das plantaes de cana-de-acar na construo do movimento Rastafri, Jamaica 1930
Resumo:Localizada ao norte do mar do Caribe, a Jamaica fo...
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Resumo:Localizada ao norte do mar do Caribe, a Jamaica foi uma "ilha de acar". No perodo colonial, a regio teve suas terras ocupadas pelo ento Imprio Britnico que introduziu, no sculo XVI, o sistema de plantao para a produo e comercializao da sacarose.
Como definido por Sidney Mintz, as plantaes constituram verdadeiras instituies polticas e agro-sociais, e como tal causaram um grande impacto na vida da ilha. As transformaes foram sentidas em seu espao, com longas extenses de cana; em sua demografia, com o genocdio dos amerndios e a vinda forada da frica de trabalhadores escravizados para trabalhar nas plantaes. Estes somavam um total de 311.000 pessoas no perodo aps a abolio em 1838 (BEZERRA, 2011, p. 30). Para citar apenas duas mudanas mais bvias na regio.
Ancorado na lgica do Estado colonial, o empreendimento aucareiro estruturou uma sociedade marcada por uma forte luta de classes. As mobilizaes por emancipao por parte dos trabalhadores e trabalhadoras das plantaes aucareiras ocorreram incessantemente, como os maroons, as revoltas Batista (1831) e Morant Bay (1865).
Ainda no sculo XX, mais precisamente nos anos de 1930, uma singular experincia aconteceu. Um grupo composto por setores da populao que eram subalternizados, sobretudo por trabalhadores e trabalhadoras advindos das plantaes, liderados pelo ex-soldado Leonard Percival Howell, vivenciou e criou, de acordo com Hlne Lee, a primeira comunidade rastafri autossuficiente, o Pinnacle.
O nome doravante dado ao movimento - rastafri - estava ligado aos impactos polticos causados pelo coroamento, na Etipia, de Ras Tafari Makonnen (Haile Selaisse I, 1930). Outra influncia do perodo, que ajudou a fomentar os ideais e aes da comunidade, foram as aes propagadas pelo ativista e poeta Marcus Garvey. Com essas referncias, organizaram-se e combateram a opresso poltica, socioeconmica e rejeitaram o sistema colonial.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a ativa participao dos homens e mulheres trabalhadores nas plantaes na construo do referido movimento, que realizou, antes da independncia do pas (1962), uma oposio direta ao Estado Colonial por meio de sua organizao autnoma, de suas posies polticas e de suas canes. Para cumprir a tarefa foi consultada bibliografia produzida por especialistas na temtica, bem como as fontes disponveis no site da Fundao Leonard Percival.
Palavras-chave: Trabalhadores; Movimentos contestatrios; Jamaica.
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Renata Conceio Nbrega Santos (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Pernambuco e Hava aucareiros: tcnica e poltica na produo da usina Catende (1934-1945).
Resumo:A usina Catende seguiu crescente produtiva nas est...
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Resumo:A usina Catende seguiu crescente produtiva nas estatsticas oficiais dos anos 30 e 40. Tida como empreendimento privado exemplar, fruto do trabalho do industrial Costa Azevedo, o Tenente, e de sua gesto, os resultados foram obtidos tambm pela pesquisa aplicada de Apolnio Sales, tcnico do corpo de funcionrios pblicos que viajou ao Hava subvencionado pelo errio, aprendeu sobre produo de acar e teve por laboratrio a usina Catende.
Em 1934, Apolnio foi nomeado chefe do Servio Estadual da Cana, integrado Diretoria da Agricultura de Pernambuco.
Criada a Secretaria em 1935, a partir da reforma da Diretoria da Agricultura, exercia o cargo de assistente do Servio de Experimentao Agrcola quando foi ao Hava e estudou processos de irrigao empregados na cultura da cana-de-acar.
Ao retornar, o experimento aplicado de Apolnio fora a usina Catende e a irrigao tornou-se o diferencial da plantao daquela usina.
Apolnio foi nomeado secretrio estadual em 1937, publicando pela Secretaria a obra Hawaii Aucareiro. Permaneceu no cargo at 1942, tornando-se ministro da Agricultura de Getlio Vargas. Com o fim do Estado Novo, deixou o ministrio (1945).
As safras da usina Catende nos decnios de 1930 e 1940 seriam as maiores produzidas por qualquer usina de acar. No Brasil Aucareiro de julho de 1938 noticiou-se mtodo inovador de irrigao da usina pelo prprio secretrio Apolnio. O substancial aumento produtivo decorrente do melhoramento cientfico foi atribudo gesto da usina, e o agora poltico Apolnio mantinha-se como expoente desse cenrio dos supostos investimentos privados em racionalizao tcnica da produo.
Tenente, 0 Rei do Acar, assim designado em fotografia sua de pgina inteira que circulou na edio de A Cigarra, de maio de 1946, era referido por polticos (Agamenon Magalhes, Afonso Arinos) e intelectuais (Jos Lins do Rego, Gilberto Freyre) como algum a frente do seu tempo e sem relaes de dependncia com a poltica e com o Estado.
Porm, no caso da usina Catende e da gesto ali empreendida, um dos fatores que possibilitou a produo foram justamente a poltica e o Estado.
O aporte terico para exame crtico das fontes noes de paisagem, Estado, laboring landscapes, plantao e de sistema mundo no campo da histria do trabalho, do acar e do meio ambiente fez concluir que o discurso tcnico poca forjou nomes da vida poltica no cenrio local e nacional, evidenciando a interconexo das relaes pblico-privadas, embora sem transparecer no discurso oficial.
A pesquisa revelou pequena amostra da permanncia do papel do Estado em desonerar o capital.
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Kerolayne Correia de Oliveira (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Manufaturas do vazio: Fotografias da Fbrica Grber e da Usina Central Barreiros em perspectiva de 1910 a 1940
Resumo:A presente pesquisa busca encontrar paralelos entr...
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Resumo:A presente pesquisa busca encontrar paralelos entre a produo imagtica no universo fabril europeu, tido, muitas vezes, como expoente na corrida pelo progresso por vias do desenvolvimento industrial e como ideal de modernizao, com destaque para Girona, na Espanha, com a Fbrica Grber; e as fbricas no campo, como pontua Sidney Mintz, na Zona da Mata de Pernambuco, com destaque para a Usina Central Barreiros. Foram selecionadas imagens de dois diferentes arquivos: a Europeana, fruto de um projeto de digitalizao e compartilhamento de arquivos produzidos pela Unio Europeia; e as que integram a Coleo Bencio Dias, salvaguardadas pela Fundao Joaquim Nabuco (Fundaj) e virtualmente disponibilizadas atravs da Villa Digital. Os processos de industrializao foram largamente acompanhados pela cmera fotogrfica que desponta como um importante mediador e difusor de ideologias, sobretudo, as dominantes. Nessa esteira, identifica-se uma tpica recorrentemente visitada para a produo dessas imagens: o vazio. Isto , a ausncia do proletariado que opera os meios de produo. Em contrapartida, exaltam-se os maquinrios fabris acompanhados por seus novos materiais: ferro, vidro e ao. Pode-se pensar na fabricao de uma ausncia ou de um esvaziamento de trabalhadores em detrimento de uma contemplao de novos processos, materiais e produtos? Quais as aproximaes e distanciamentos guiam as tomadas de imagens nesses espaos? Como os trabalhadores foram representados, em alguns momentos, e por que no foram representados em outros? Para traar caminhos que busquem melhor compreender essas imagens, levam-se em considerao as tendncias fotogrficas que acompanhavam as dinmicas sociais que abrangem este perodo, na medida em que se visitam categorias como civilizao e progresso trabalhadas por Karl Marx. Busca-se, na reflexo, levar em considerao questes que permeiam os debates sobre raa e processos de violncias aos quais estavam submetidos esses trabalhadores, sobretudo o proletariado da Zona Canavieira de Pernambuco, enquanto um caminho elucidador para melhor compreender tais silenciamentos visuais. Sobre a Zona da Mata, pensa-se a partir de Christine Dabat, Thomas Rogers e Jos Marcelo Marques. Trabalhos como os de Emanuel Moraes Lima dos Santos, Jos Srgio Leite Lopes e Telma de Barros Correia, que analisam as vidas, relaes, atuaes e luta dos trabalhadores txteis, somam-se presente discusso na medida em que fomentam a expanso de vivncias e produes imagticas. Por fim, procura-se refletir sobre o impacto das ausncias dos trabalhadores dessas produes imagticas por vias do esquecimento e do apagamento de parte da sua histria.
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Victor Hugo Luna Peres (Secretaria de Educao do Estado de So Paulo)
Para alm do mundo do trabalho... Os Imigrantes Chineses em Cuba: vivncias e experincias possveis nas brechas e margens do Sistema de Plantao
Resumo:No presente trabalho, procuro abordar algumas das ...
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Resumo:No presente trabalho, procuro abordar algumas das mltiplas e complexas experincias de vida e sociabilidade de imigrantes chineses na Cuba oitocentista, para alm do mundo do trabalho. Utilizando uma gama ampla de obras e documentos entre esses, relatos orais e escritos da poca e de uma historiografia recente, o trabalho traz tona uma srie de facetas menos visveis das experincias cotidianas de vida dos trabalhadores chineses em meio quela sociedade. Marcadas pelas contradies e violncias (explcitas e implcitas) produzidas pelos regimes de explorao capitalista, da instituio da escravido (ainda vigente e concomitante) e do regime de trabalho sob contrato, alm claro, das presses da prpria engenharia social do sistema de plantao fortemente estabelecido na ilha , essas experincias aqui trabalhadas tambm lanam luz sobre todo o complexo processo de rearranjo das expectativas e projetos de vida desses sujeitos, implementados e conseguidos nas brechas e margens desse sistema. Sem negar as diversas formas de explorao e opresso econmicas, sociais, culturais e legais que foram postas e impostas a esses indivduos, o trabalho busca desvel-las e traz-las para o interior dos debates sobre os fenmenos mais amplos do trfico de coolies e das migraes internacionais. Em uma intrincada mistura de atos de resistncia, vivncia, trabalho e porque no de diverso e entretenimento, essas aes e atitudes aqui abordadas mostram a amplitude das estratgias possveis desenvolvidas por esses sujeitos no, em muitos dos casos, limitado campo do privado. Histrias curiosas, por vezes pitorescas, mas em sua maioria doloridas e trgicas, essas narrativas preenchem lacunas importantes da histria desses sujeitos e do seu processo de insero em meio sociedade cubana.
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