Resumo: A Histria Antiga e a Histria Medieval, durante boa parte do sculo XX, foram vistas como setores profundamente conservadores da disciplina Histria. Essa viso se justificaria pois, apesar de contar com algumas importantes excees, no que diz respeito aos mtodos e procedimentos, ambas reas contaram com praticantes bastante aferrados uma filologia oitocentista, e, no que diz respeito aos posicionamentos polticos e culturais dos seus praticantes, haveria uma tendncia ao conservadorismo e ao pensamento mais direita do espectro poltico. Contudo, os estudos sobre a Antiguidade e sobre a Idade Mdia mudaram profundamente durante a segunda metade do sculo XX, com uma particular acelerao das mudanas no incio do XXI. Em ambas, a conscincia da alteridade social tem levado a infinitas problematizaes de ideologias conservadoras que articulavam a representao histrica desses recortes cronolgicos. Da mesma forma, a investigao dos mundos antigos e medievais tem despertado novos temas e problemas: identidades, conflitos intergeracionais, tolerncia religiosa, sexualidade, trabalho e riqueza, poder e poltica, cultura e diversidade.
, porm, ainda embrionrio o contato destas novas representaes da Antiguidade e do medievo com a cultura histrica e com a memria social fora da Academia, ou mesmo dos contextos educativos formais.
A partir dessas consideraes, o simpsio temtico aqui proposto busca organizar trabalhos que analisem, por um lado, a prtica educacional curricular ou no, e, por outro, novas experincias interpretativas advindas das fontes e instrumentaes usadas pelo estudioso da Histria Antiga.
Bibliografia
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BERNAL, M. (1987). Black Athena: The Afroasiatic Roots of Classical Civilization. New Brunswick: Rutgers.
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GUARINELLO, N. L. (2013). Histria Antiga. So Paulo: Context.
HAHN, Thomas. The difference the Middle Ages makes: color and race before the modern world. Journal of Medieval and Early Modern Studies, v. 31, n. 1, p. 1-38, 2001.
HENG, Geraldine. Holy war redux: the crusades, futures of the past, and strategic logic in the clash of religions. PMLA, v. 126, n. 2, p. 422-431, 2011.
HORDEN, P., & Purcell, N. (2000). The Corrupting Sea. A study of Mediterranean History. Oxford: Blackwell.
MOORE, R. I. The formation of a persecuting society: authority and deviance in Western Europe 950-1250. Malden, Oxford: Blackwell, 2007.
SILVEIRA, Aline Dias da. Algumas experincias, perspectivas e desafios da medievalstica brasileira frente s demandas atuais. Revista Brasileira de Histria, So Paulo, v. 36, n. 73, p. 39-59, 2016.
ST 11 - Sesso 1 - Sala 11 - Dia 16/09/2020 das 14:00 s 18:00 276f28
Local: Sala 11
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Eduardo da Silva Freitas (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco), Luiz Felipe Santos da Silva (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Entre Histria e Literatura: movimentos de renovao religiosa em O Nome da Rosa luz da polifonia e do dialogismo bakhtiniano
Resumo:Este artigo discute os efeitos das noes de polif...
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Resumo:Este artigo discute os efeitos das noes de polifonia e dialogismo bakhtinianos presentes, para ns, no romance O Nome da Rosa, do escritor italiano Umberto Eco, e atravs deles intenta identificar os movimentos de renovao religiosa da Baixa Idade Mdia, tais como as ordens religiosas (franciscanos) e os movimentos herticos (dulcinistas, ctaros, valdenses), que so pano de fundo da obra. Inicia com a apresentao da obra literria, tal como do filsofo russo Mikhail Bakhtin, propondo a partir da que o romance arquiteta-se sob a gide do coro vocal plenivalente nvel formal, concebendo, dessa forma, um mundo de individualidades caracterizadas por fortssimo grau de autonomia, rompendo com a tradio do monologismo literrio. O enfoque dialgico, identificado por Bakhtin nos romances de Dostoivski, aqui reaproveitado no constructo medieval desenvolvido por Eco em seu romance. A partir dos esclarecimentos do especialista e tradutor Paulo Bezerra e outros, assim como as prprias obras do filsofo russo, teceu-se uma relao crtica entre esses escritores e suas produes, gerando, ver-se-, concluses como a precedncia dos interdiscursos sobre o discurso no texto literrio do italiano, ou ainda a aparelhamento da (re)formulao da autoria, discutida por Bakhtin e aqui aplicada ao jogo autoral do qual Eco se serve na construo narrativa de O nome da rosa. Num segundo momento, so apresentados e a-se a discutir os movimentos de renovao religiosa, ou de renovao da espiritualidade medieval, nos sculos XII ao XIV, fazendo o encontro desses com discursos extrados dessa polifonia aplicada. Iniciamos, nesta etapa, pelo entendimento dos ideais que os grupos religiosos possuam, principalmente o de vita apostolica, e caminha-se, em parte, pelas doutrinas que os dividiam, numa tentativa de generalizar e abarcar esse fator do perodo. Alguns foram tomados por hereges, e o romance a sua maneira ilustra ilustra, pela Igreja Catlica Romana, quando suas doutrinas faziam oposio ao corpus Christianum. Aqui, por fim, foram entendidos sob a gide dialgica de montagem, modus operandi do texto de Eco. Finalmente, aps situados no tempo e identificar as ferramentas usadas para p-los no romance, conclui com a confluncia de ambas as partes para a sntese proposta.
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Gleyson Maurcio Lima (UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
O Colonato Romano na Historiografia Brasileira
Resumo:Esta pesquisa, realizado com professor Dr. Uiran G...
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Resumo:Esta pesquisa, realizado com professor Dr. Uiran G. da Silva, teve por objetivo discutir e analisar o debate historiogrfico a respeito das relaes de trabalho na antiguidade e do colonato romano, o que consequentemente traz tona a questo de como a historiografia disponvel em portugus trata esse/s tema/s? Alm disso, a questo da predominncia das antigas interpretaes sobre o colonato no contexto da produo acadmica brasileira. H uma quantidade enorme de documentos e informaes processadas hoje sobre Roma (desde sua nebulosa fundao at o sculo V), e como afirmou Mary Beard em seu livro SPQR, em certos aspectos, sabemos mais sobre a Roma Antiga do que os prprios romanos. Muitas discusses esto em curso e a histria de Roma (mas tambm de diversos perodos e sociedades humanas) est sempre sendo reescrita e atualizada. Essa , portanto, a base da pesquisa, a divergncia movida pelos diversos pontos de vista e de anlise do ado de uma instituio que surgiu na Roma tardo-imperial, o colonato romano. Se por um lado, autores como Weber e Perry Anderson, articularam interpretaes em favor de uma instituio criada para vincular o trabalhador rural a terra sob a tutela de seu Senhor, relao que prefiguraria o destino daquilo que seria o feudalismo. De outro, por sua vez, autores como Jean Michel-Carri criticaram fortemente esta vertente, chegando a concluso de que, na verdade, o colonato no ou de uma instituio inventada pela historiografia moderna. Como se d esse debate historiogrfico e como ele se apresenta no contexto brasileiro? , portanto, sobre isso que versa a pesquisa. Para esta pesquisa foram utilizados divertos textos de diferentes autores, dentre eles, o j citado; M. Weber, Uiran G. da Silva e Carlos A. R. Machado. Tambm foram realizados extensos levantamentos bibliogrficas, bem como uma anlise das interpretaes acadmicas sobre o tema do colonato.
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Anderson Zalewski Vargas (UFRGS)
A Recepo da Antiguidade pela imprensa brasileira e portuguesa na primeira metade do sculo XIX
Resumo:A comunicao objetiva apresentar resultados de p...
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Resumo:A comunicao objetiva apresentar resultados de pesquisa em andamento sobre a Recepo da Antiguidade na imprensa brasileira e portuguesa na primeira metade do sculo XIX. Naquele momento - em um mundo globalizado atravs da ao de imprios, comrcio e fluxo de ideias - entre as vrias funes dos jornais, podemos citar a transmisso de informaes, o debate e a luta poltica. Nesse contexto, a Antiguidade no era apenas uma fonte de autoridade, mas frequentemente compunha os argumentos que ofereciam modelos e antimodelos, exemplos, eptetos. Pretendo vislumbrar essa apropriao ativa de um ado considerado significativo o suficiente para refletir sobre o presente e o futuro. elementos resultantes do trabalho ento desenvolvido e de minha posterior anlise e reflexo. Especificamente, apresento consideraes sobre a noo de "cadeia de recepes", cara Teoria da Recepo de Charles Martindale, presente no arcabouo de minha investigao, e uma anlise da apropriao de uma dupla ateniense, o legislador Slon e o tirano Pisstrato, invocados com certa frequncia na reflexo poltica corrente de quase duzentos anos atrs.
BIBLIOGRAFIA PARCIAL
ALVES, Jos Augusto Santos. O periodismo brasileiro de transio na dinmica da circulao transatlntica do impresso. In: ABREU, Mrcia; DEAECTO, Marisa Midori (orgs). A circulao transatlntica dos impressos: conexes. [recurso eletrnico] Campinas: UNICAMP/IEL/Setor de Publicaes, 2014. p. 185-195.
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MARTINDALE, Charles Anthony. Redeeming the text. Latin poetry and the hermeneutics of reception. Cambridge: Cambridge UP, 1993.
MOREL, Marco. Os primeiros os da palavra impressa. In: DE LUCCA, Tania Regina. Histria da Imprensa no Brasil. So Paulo: Contexto, 2010. p. 23-43.
PEREIRA, Belmiro Fernandes. Retrica e eloquncia em Portugal na poca do Renascimento. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 2012.
PERELMAN, C.; OLDEBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado de argumentao. A nova retrica. 2 ed. So Paulo: Martins Fontes, 2005 (1958).
SILVA, Loureno Fernandes Neto e. A concepo de educao de Condillac. Seminrio dos Estudantes da Ps-Graduao em Filosofia da UFSCar, 9., 2013. Anais. So Carlos: UFSCAR, 2013. p. 270-277. Disponvel em: http://www.ufscar.br/~semppgfil/2013-2/. o em 27 set. 2019.
TENGARRINHA, Jos. Nova Histria da Imprensa Portuguesa. Das origens a 1865. Lisboa: Crculo de Leitores, 2013.
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Allef de Lima Laurindo Fraemann Matos (UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
HQs e Ensino de Histria: Asterix, o gauls na renovao do Ensino de Histria Antiga
Resumo:A presena das histrias em quadrinhos no mbito e...
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Resumo:A presena das histrias em quadrinhos no mbito escolar, como um recurso pedaggico na sala de aula, tem tornando-se mais frequentes nos ltimos anos. Os Programas federais como, dos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) e o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), tm incentivado o uso de novo recurso e prticas pedaggicas na sala de aula. E com a presena, desses novos recursos, em especial as histrias em quadrinhos na sala de aula, novos desafios para os professores surgiram. Assim, com a necessidade de compreender melhor a linguagem das HQs, seus recursos e obras, as reas de conhecimento tm atraindo cada vez mais interessados em realizao pesquisar sobre aspectos especficos da sua produo, linguagem e desenvolvimento.
Essa valorizao dos estudos sobre as histrias em quadrinhos no Brasil permitiu ampliao do olhar da academia com objeto. E como aponta Helenice Ciampi (2010), O Ensino de Histria est ando por um processo de expanso com insero de novos contedos e introduo de novos recursos didticos na sala de aula. Os alunos do sculo XXI convivem com uma vasta rede de informaes, presentes atravs de site de pesquisa, redes sociais, imagem, servios de streaming, jogos digitais, pelculas e histrias em quadrinhos, que podem ser usados na sala de aula.
Portanto, procuro com este trabalho, analisar as histrias em quadrinhos de Asterix como recurso didtico no Ensino de Histria Antiga e debater como as histrias em quadrinhos de Asterix pode contribuir na renovao do Ensino de Histria Antiga. A anlise aqui desenvolvida parte de uma pesquisa mais ampla que busca criar elementos para problematizar o conceito de cidadania no Ensino de Histria a partir de saberes ligados ao campo da Histria Antiga.
Palavras-chave: Histria Antiga; Ensino de Histria; histrias em quadrinhos; Asterix.
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Giovanna Martelete do Amaral (PUCRS - Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul), Nykollas Gabryel Oroczko Nunes
Representaes da natureza medieval em Dungeons & Dragons
Resumo:A histria medieval tem-se feito presente no cotid...
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Resumo:A histria medieval tem-se feito presente no cotidiano contemporneo na forma de lazer e divertimento, notadamente em filmes, seriados e jogos como o RPG (Role Playing Game) Dungeons & Dragons. Esses medievalismos expressam a forma como as pessoas se recordam da Idade Mdia, mesmo que de forma imprecisa (Marshall, 2007). Todavia, so essas expresses culturais populares as formas majoritrias pelas quais as pessoas em geral tem o ao ado, mais do que por produes acadmicas (Sanchs Marcos, 2012). O mundo fantasioso de D&D tem suas referncias ancoradas na Europa medieval e abrange aventuras com criaturas mgicas e elementos do imaginrio sobre a Idade Mdia. Uma parte importante do jogo o local onde se am as aventuras, como espaos naturais que, mesmo marcados por elementos fantasiosos, fazem referncia ao perodo histrico que estrutura o jogo, o medievo europeu, ou seja, tm por base um imaginrio contemporneo sobre a natureza na Idade Mdia. O objetivo deste trabalho analisar qual representao do ambiente natural medieval incentivada no RPG Dungeons & Dragons. Roderick Nash (1967), descreve como a ideia de wilderness no Ocidente ou por muitas mudanas ao longo do tempo. Dos componentes culturais do medievo europeu, a tradio crist associou-a ao Diabo e lhe designou caractersticas terrveis, enquanto tradies germnicas a ela relegaram criaturas como o homem selvagem e outros entes assustadores. A wilderness era em grande parte desprezada, temida e vinculada ao perigo, como seguiu sendo por muito tempo (NASH, 2014). D&D tem como base trs livros que guiam a construo dos personagens (Livro do Jogador), do mundo em que se a a aventura (Guia do Mestre) e dos monstros que sero enfrentados (Manual dos Monstros). Selecionamos o Guia do Mestre para esta anlise por ser o livro que explora e indica a criao do mundo. Desde seu lanamento em 1974 nos Estados Unidos, o jogo acumula 5 edies, a ltima lanada em 2014, ainda no tem traduo oficial completa no Brasil. Ainda assim, D&D 5 se tornou to popular no Brasil que ao menos desde 2015 j existe uma traduo feita por um f, membro de um grupo de Facebook exclusivamente da 5 Edio, o qual soma mais de 39 mil membros. No Guia do Mestre, a wilderness aparece como um dos trs ambientes nos quais as aventuras de D&D 5 podem se ar, ao lado de masmorras e assentamentos. Ela abriga perigos representados pelas mesmas criaturas presentes nas lendas europeias, s quais atribudo um carter maligno, ao encontro da associao crist wilderness-diabo. Isto se segue, majoritariamente, at surgirem outras matrizes culturais, como o romantismo, buscando relacionar a wilderness a aventura, nobreza, inocncia, pureza e outros valores positivos.
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Paula Katherine Tarquino (UFPB - Universidade Federal da Paraba)
A representao histrica da Grcia Antiga no jogo Assassins Creed Odyssey: debate historiogrfico x demanda mercadolgica
Resumo:O consumo de jogos digitais tem crescido bastante ...
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Resumo:O consumo de jogos digitais tem crescido bastante ultimamente na nossa sociedade, atraindo o gosto de pessoas de idades, gneros e classes sociais distintas. Com o objetivo de atender a demanda de uma sociedade cada vez mais diversificada, a indstria dos games produziu inmeros ttulos com temticas variadas. Nesse contexto, produtos da indstria cultural, recorrentemente, trazem em seu escopo representaes histricas para serem consumidas pelo mercado capitalista. As pessoas gostam de temticas histricas nos jogos digitais, se sentem atradas pela possiblidade de vivenciarem o ado, mesmo que de forma simulada. Dessa forma, os jogos digitais oferecem essa experincia a seu pblico por serem, alm de audiovisuais, interativos.
Comumente as sociedades se apropriam do ado histrico e o reproduz sua maneira. Num contexto especfico, podemos observar uma indstria cultural bastante aquecida e interessada em representar o ado histrico. Vale salientar que h uma srie de interesses e valores intrnsecos a essas apropriaes, que muitas vezes se distanciam de uma verdade histrica no intuito atender demandas mercadolgicas. Como esses produtos so consumidos por um pblico bastante amplo e diversificado, notrio que esses produtos tem a capacidade de influenciar na construo de uma imagem, e porque no, de uma memria sobre determinado contexto histrico. Faz-se necessrio a funo do historiador no estudo dessas fontes contemporneas para critic-las e identificar os usos e abusos que essas mdias fazem da Histria.
Desse modo, a presente pesquisa, a partir do conceito de usos do ado, tem analisado a representao histrica da Grcia Antiga no jogo digital Assassins Creed Odyssey com o interesse de compreender os fatores que influenciaram essas representaes. Durante o estudo com essa fonte histrica, esses fatores foram agrupados em trs: o objeto jogo digital e seus elementos de jogabilidade, a demanda mercadolgica e as influncias historiogrficas. Desse modo, realizei alguns recortes para analisar essas representaes a partir de uma discusso historiogrfica, no intuito de compreender os interesses mercadolgicos na representao intrnseca a esse contexto histrico.
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Daniel Tiago de Vasconcelos (UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Eurocentrismo no Uso de Narrativas Sobre Histria das Cincias e o Apagamento do Isl Medieval no PNLD de 2020
Resumo:A disciplina autnoma da Histria das Cincias gan...
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Resumo:A disciplina autnoma da Histria das Cincias ganhou espao na formao de professores de diversas cincias, mas apresenta pouca apropriao de suas discusses no ensino de Histria. Livros didticos e trabalhos sobre ensino de cincias contribuem para a reproduo de marcos historiogrficos eurocntricos como o milagre grego e a Revoluo Cientfica. Este trabalho identifica estes marcos nas colees de livros de Histria do PNLD de 2020, o primeiro completamente feito aps a BNCC 2017, marcada por fortes disputas sobre o papel da histria antiga e medieval, e para uso durante o mandato do governo Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que se observa o encurtamento da presena da histria islmica no contempornea, e a restrio dos temas trabalhados. Bem como uma perca de espao para a representao do Isl Ilustrado, frente a medievalidade europeia. As colees de livros didtico foram observadas em sua forma de comunicao nos textos de manuais do professor, bem como na presena de contedos de histria das cincias, tcnicas e do Isl. Existindo variaes do contedo e das formas, em comparao com edies anteriores, desde o simples retrocesso com reduo do contedo sobre o Isl e aumento da histria da cristandade medieval ocidental, at permanncias textuais de mais de vinte anos, esforos em periferizar a Idade Mdia, enquanto marcos produzidos pela historiografia da Revoluo Cientifica apresentam pouca variao. Muitas das consideraes apontadas exigem maior investigao para avaliao das hipteses, denunciando uma necessidade de investigao transdisciplinar da presena de contedos histricos em livros das outras disciplinas, no abarcados por esse trabalho. Mas deve-se lembrar que estes espaos tambm so produtores de cultura histrica e podem estar diretamente relacionados com as construes dos livros de Histria, pelas dinmicas editoriais. Os debates da BNCC de 2017 destacaram os problemas do eurocentrismo de forma pontual na literatura, e principalmente na Histria, enquanto as narrativas histricas contidas na BNCC sobre outras disciplinas foram praticamente ignoradas. O PNLD de 2020 foi feito em contexto de crise financeira editorial entre 2017 e 2019, enfrenta ameaas de interferncia presidencial para evitar doutrinao, e apresenta-se com grande atrasos e falhas nas distribuies como um dos poucos materiais disponveis para diversos estudantes na pandemia de SARS-Covid 2.
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Giovanni Accioly Sellaro Jnior (PPGH UFPE)
In hoc signo vinces: usos do ado greco-romano em Casa-Grande & Senzala
Resumo:O socilogo recifense Gilberto Freyre (1900-1987) ...
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Resumo:O socilogo recifense Gilberto Freyre (1900-1987) um dos intelectuais mais conhecidos e controversos da nossa histria. Dotado de um estilo nico de escrita, Freyre produziu uma obra ampla e diversificada, na qual examina variados aspectos da cultura nacional. Tomando por base a regio Nordeste, ele abordou, em muitos de seus trabalhos, temas inovadores e polmicos, tais como o papel fundamental da sexualidade e das divises de gnero para a formao da sociedade brasileira. Uma leitura atenta da magnum opus do autor, Casa-Grande & Senzala, revela um aspecto que, ao que nos parece, ainda no foi abordado nas variadas anlises que j foram feitas acerca da produo intelectual freyreana: a presena de elementos da antiguidade clssica na escrita do autor. Gilberto Freyre foi leitor dos clssicos, estudou latim e grego durante sua formao escolar, e tais fatos se refletem ao longo de todo o texto de Casa-Grande & Senzala. A obra contm diversas agens nas quais Freyre traa paralelos entre a famlia no Brasil Colnia e na Roma Antiga, por exemplo. Neste sentido, a presente proposta de comunicao oral tem por objetivo apontar os trechos da obra nos quais tais elementos se fazem presentes e ensaiar possveis interpretaes para a presena e os significados destes elementos no livro. A relevncia de uma investigao deste tipo reside no papel de destaque ocupado por Freyre no que concerne s tentativas de interpretao do Brasil, alm do carter pioneiro de suas reflexes acerca da funo crucial exercida pela constituio familiar na tessitura do corpo social ptrio. O estudo ora proposto se insere no campo da histria intelectual, ou histria cultural, como preconiza Chartier, e lana mo tanto de suas concepes de prticas e representaes quanto da leitura enquanto atividade autnoma, aduzida por Certeau. No que diz respeito s fontes, pretende-se uma anlise crtica e qualitativa de Casa-Grande & Senzala e de Tempo Morto e Outros Tempos, ambos de autoria de Freyre.
Palavras-chave: Gilberto Freyre; Casa-Grande & Senzala; antiguidade clssica; famlia; histria cultural.
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Fbio Faversani (UFOP)
BolsoNero: estudo de um caso de allelopoiesis
Resumo:Nero foi Imperador de Roma entre os anos de 54 e 6...
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Resumo:Nero foi Imperador de Roma entre os anos de 54 e 68 d.C. O seu Principado bastante conhecido por alguns episdios como o incndio de Roma (que deu origem a uma onda de perseguio aos cristos) e a violncia contra as mulheres da casa imperial (sua me foi morta a seu mando, assim como a sua primeira esposa; a segunda esposa ele prprio assassinou). Esse imperador foi ainda visto como um artista que se dedicou doentiamente a obter reconhecimento. Esse exagero apontado tanto pelo seu cuidado excessivo na preparao e execuo de suas performances quanto na construo de sua casa, a famosa Domus urea. Doentiamente o advrbio que foi empregado recorrentemente para qualificar o comportamento desse Imperador. O tema da loucura imperial, a loucura do poder central na sua caracterizao. Ainda que seja visto como avesso guerra, foi no seu Principado que eclodiram duas revoltas provinciais que so centrais para a forma como Britnicos e Judeus pensaram sua prpria Histria.
Aps o suicdio de Nero, acontecimentos do seu perodo de governo e caracterizaes de sua personalidade foram retomados para dar sentido, relevo ou contraste a muitos episdios e pessoas que viveram aps sua morte. A cada nova retomada de Nero, novos sentidos eram atribudos ao ado luz do presente que o recuperava, assim como esse presente ganhava um novo desenho a partir dessa recuperao da figura de Nero como medida das coisas. Utilizamos a noo de allelopoiesis, ou construo recproca, para analisar essa injuno entre ado e presente que transformam um ao outro mutuamente. Os sucessivos movimentos de recuperao e transformao de Nero em contextos que se sucederam ao longo do tempo gerou uma tradio interpretativa desse imperador que no permite que ele seja compreendido apenas como algum que viveu em determinada poca e realizou tal ou qual ao. Nero se transformou uma figura que pertence a muitas pocas e sociedades e toda essa tradio parte indelvel da viso que possamos ter dele.
O propsito dessa comunicao apresentar a forma como Nero foi utilizado em uma allelopoiesis que o conectou ao Presidente da Repblica Bolsonaro, gerando o BolsoNero. Nosso intuito exemplificar com esse estudo de caso as possibilidades de utilizao do conceito de allelopoiesis.
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Thais Rocha da Silva (University of Oxford)
O Egito antigo e os ativismos: problemas de narrativa histrica
Resumo:A pesquisa e o ensino do Egito antigo no Brasil t...
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Resumo:A pesquisa e o ensino do Egito antigo no Brasil tm aberto questes importantes sobre o lugar do Egito dentro das disciplinas de histria antiga e arqueologia, o que pode contribuir para um reposicionamento da disciplina e do campo, que vem sendo discutidos em alguns centros europeus. Tradicionalmente, a antiga civilizao egpcia tratada pela Egiptologia como uma civilizao oriental, fruto de um modelo colonial de organizao do mundo e do conhecimento. Nesse enquadramento, o Egito retirado da frica e colocado numa narrativa linear teleolgica da histria ocidental, junto com o oriente. A recente insero do Egito antigo dentro da histria da frica e de um amplo debate sobre a sua relao com o mundo africano no est desligado do ativismo, tanto acadmico como social, sobretudo no caso brasileiro. Contudo, os desdobramentos desses ativismos tm consequncias que tambm so problemticas. preciso compreender a complexidade da histria egpcia em seus diversos perodos e sobretudo os processos de formao do campo de pesquisa e da constituio de uma disciplina acadmica dentro de uma matriz colonial. As apropriaes de diversos 'Egitos' elaborados dentro de um espectro de antiguidade tiveram consequncias profundas para formular investigaes cientficas sistemticas que precisam ser questionadas. No cenrio brasileiro recente que dialoga com movimentos sociais na Europa e nos Estados Unidos, a apropriao de um determinado Egito negro cria uma imagem positiva dos antigos egpcios, mas ainda dentro da mesma matriz colonial. Portanto, o problema no est circunscrito ao lugar do Egito antigo. preciso que a pesquisa acadmica examine e questione as matrizes coloniais pelas quais uma dada narrativa histrica possvel e visvel. Nessa apresentao examino algumas dessas narrativas e as suas implicaes para a constituio de um imaginrio sobre o Egito antigo e sua pesquisa no Brasil.
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ST 11 - Sesso 2 - Sala 11 - Dia 17/09/2020 das 14:00 s 18:00 2c5u2u
Local: Sala 11
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Giovanna Ily Farias Ramalho (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
A escrita da histria segundo Ibn Khaldun: Intelectualidade rabe africana em perspectiva
Resumo:No ano de 779 D.H. (1377 D.C.) Ibn Khaldun, um pol...
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Resumo:No ano de 779 D.H. (1377 D.C.) Ibn Khaldun, um polmata magrebino, publicava sua obra Muqaddimah, tradicionalmente chamada de Prolegmenos palavra que tem origem em um particpio grego que significa as coisas que so ditas antes, ou em portugus apresentado como Introduo a Histria Universal.
Nesta obra, o tunisiano nascido em 732 D.H. (1332 D.C.) faz uma anlise histrico-cultural sobre os povos rabes que se espalharam pela frica do Norte a partir do sculo VII, chamando ateno para detalhes da dominao rabe que se mostram grandiosa aos olhos do autor. Mas esse no o nico aspecto relevante da obra, j que nesse livro que Ibn Khaldun desenvolve ideias que, posteriormente, justificar o ttulo, concedido por alguns, de pai das Cincias Sociais e da Filosofia da Histria.
Khaldun afirma, ainda nas pginas iniciais da sua obra, que h um problema em contar a histria de uma dinastia a narrativa Khalduniana segue esse contexto das histrias dinsticas, comum ao tempo e local em que ele est inserido- reproduzindo acontecimentos numa narrativa uniforme que repete informaes, tanto as verdadeiras quanto as falsas. Ele considera importante a discusso sobre origens, motivos e circunstancias dos acontecimentos.
Para o magrebiano, a Histria serve a todas as pessoas em todas as geraes, podendo ter muitos objetivos. Entre esses objetivos, encontra-se o entretenimento, mas para o autor esta seria penas uma das faces da histria. Por isso, partir de um critrio de responsabilidade, Khaldun prope fazer a narrativa da Muqaddimah tendo prudncia com seus argumentos, o que para ele o mais apropriado e traz mais qualidade ao texto.
Aps a anlise das crticas e propostas apresentada pelo intelectual africano, pretendo relacionar essas concepes sobre a escrita da Histria em Ibn Khaldun com as propostas e crticas feitas pelo historiador alemo Reinhart Koselleck, que se dedica ao estudo de intelectuais medievais -ocidentais- e aponta algumas caractersticas da escrita moderna que revelam um avano positivo na escrita da Histria.
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Silvio Romero Tavares Neiva Coelho (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Reflexes sobre a imagem de Agostinho de Hipona enquanto norte-africano
Resumo:Em Abril de 2001 o presidente da Arglia, Abdelazi...
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Resumo:Em Abril de 2001 o presidente da Arglia, Abdelaziz Bouteflika, convocou acadmicos para uma conferncia em Argel cujo ttulo era : Saint Augustin: Africanit et Universalit. O impacto foi interessante: os argelinos acusaram-no de estar ocidentalizando o pas ao trazer referncias de uma cultura pr-islmica na regio, recorrendo inclusive violncia fsica como forma de protesto. O ponto onde a problemtica se revela mais instigante que a regio de Tagaste, onde o bispo nascera, atualmente a Arglia.
O presente trabalho pretende apresentar reflexes acerca da imagem de Agostinho enquanto norte-africano. A ideia surge a partir da noo de que, apesar de que nenhum estudioso ouse negar o local de nascimento de Aureliano Agostinho, suas origens enquanto norte-africano so por vezes esquecidas e, quando postas mostra, so pontos fora da curva, a exemplo do caso da conferncia na capital argelina.
Com o intuito de realizar este trabalho, pretendo colocar meu foco em diversas obras onde Santo Agostinho apresentado com traos tnicos ou claramente retratado enquanto norte-africano. Um primeiro momento a pintura do italiano Piero della sca(c. 1454 E.C), feita originalmente para a igreja agostiniana de Sanselpocro, atualmente a Igreja de Santa Clara . A pintura representa o hiponense usando as tnicas da Ordem de Santo Agostinho e, o que chama ateno para a presente anlise, como um homem negro. Alm destes, outro ponto para anlise ser a cinebiografia do bispo dirigida pelo italiano Roberto Rossellini em 1972: Santo Agostinho (Agostino dIppona no ttulo original). O filme retrata os principais momentos da vida do bispo hiponense, incluindo as polmicas religiosas com os donatistas, e elogiado pela sua preciso. No entanto, o ponto que mais se destaca e que ser enfocado nessa anlise a escolha de ator para o hiponense: bispo foi representado pelo argelino Dary Berkani, um homem negro. Outra questo que se pretende abordar levantar e analisar as biografias e alguns trabalhos acadmicos produzidos acerca da figura de agostinho enquanto norte africano, ou sua ausncia. Esses documentos sero postos em frente s obras do prprio hiponense, onde ele se mostra parte de um mundo conectado, ao mesmo tempo em que se preocupa com o local onde est inserido.
Em conjunto, a anlise dos documentos citados fundamenta uma reflexo sobre a imagem do santo numa perspectiva ps-colonial. Busca-se, assim, levantar possveis ponderaes acerca da africanidade da imagem do bispo, tendo em considerao os desdobramentos culturais e polticos que esta pode ter.
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Vitor Borges da Cunha (UFPEL - Universidade Federal de Pelotas)
A construo de uma identidade crist nica na Etipia Crist: o papel do duplo sabbath (sculo XV)
Resumo:Este trabalho prope uma reflexo a respeito da co...
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Resumo:Este trabalho prope uma reflexo a respeito da construo da identidade crist na Etipia Crist entre os sculos XIV e XV. Para tanto, irei analisar especificamente uma questo do cristianismo etope: o duplo sabbath. A partir de 1450, aps o Conclio de Debre Metmaq, a ortodoxia etope ou por uma importante mudana: o duplo sabbath ou a ser a regra vigente. Neste conclio estiveram presentes as redes crists divergentes os eustatianos, defensores da prtica tornada ortodoxa, e os representantes da instituio crist ortodoxa, contrrios mudana. A questo da ortodoxia (ou no) do duplo sabbath data de perodos antigos, porm a partir do sculo XIV, com o movimento eustatiano, que ela ganha maior flego na Etipia Crist. De incio rechaada, ela acaba se tornando parte da ortodoxia, pois os eustatianos aram a ameaar a unidade da Etipia Crist por conta de sua aceitao em territrios setentrionais espaos que j eram contrrios ao domnio salomnida. Ou seja: a identidade crist divergente da ortodoxa era utilizada por grupos contrrios ao domnio salomnida. Logo, ela opera como um diferenciador da identidade estatal.
O Conclio de Debre Metmaq foi presidido pelo ento governante, Zara Yaeqob (1434-1468). Ele no apenas conduziu a discusso, mas, tambm, atuou como um defensor da prtica. O governante, portanto, atuou de forma defensora mudana. Seu perodo de governo, como aponta a historiografia, foi um momento de expanso e consolidao dos domnios salomnidas na regio do Chifre da frica. E, mais do que enfrentar populaes no-crists, Zara teve de resolver disputas internas, especialmente a divergncia entre grupos cristos (ou redes monsticas) etopes. Vejo nessa mudana da ortodoxia (e na forma com que o conclio foi conduzido), portanto, uma tentativa de construir uma identidade crist coesa na Etipia Crist do sculo XV.
Palavras-chave: Etipia Crist; duplo sabbath; ortodoxia crist
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Tas Nathanny Pereira da Silva (PUC GOIS - Pontifcia Universidade Catlica de Gois)
Uma peregrinao pelo Mediterrneo em tempos de Cruzadas: O Itinerrio de Benjamin ben Ion de Tudela
Resumo:O homem medieval raramente viaja por prazer ou por...
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Resumo:O homem medieval raramente viaja por prazer ou por diverso, ele se move sempre pensando em um objetivo, impulsionado por uma nsia espiritual, por uma necessidade econmica ou por exigncias prprias de seu trabalho. Nesse sentido, poderamos chamar propriamente de viagem este ir de um lugar para o outro motivado exclusivamente por uma necessidade material ou espiritual? Em um mundo como o medieval, em que raramente se viaja por gosto ou por puro desejo de aventura, necessrio distinguir o que viagem e um mero deslocamento ou uma migrao. Nesses casos o viajante seria apenas uma parte, um meio para unir os pontos de partida e chegada.
Os diversos registros de viagens medievais, mesmo apresentando caractersticas e propsitos multifacetados, recorreram a um conjunto de recursos narrativos e descritivos em comum, resultando na formao de um gnero literrio diversificado que denominado como livros de viagens medievais. Esse gnero mescla o discurso documental com o discurso literrio, os livros de viagens medievais so uma fonte para entender a concepo de mundo e de realidade na Idade Mdia e, tambm, permitem conhecer diversas informaes e dados acerca do perodo.
Esta pesquisa visa contribuir com os estudos sobre um fenmeno histrico multifacetado e instigante como as Cruzadas. Para isso, trabalharemos com uma fonte documental do perodo, O Itinerrio de Benjamin de Tudela. Aps viajar pela regio que hoje conhecemos como Oriente Mdio, entre a Segunda e a Terceira Cruzada, Benjamin ben Ion de Tudela registrou por escrito suas vivncias e os eventos que chamaram sua ateno.
Ao falarmos que estamos lidando com relatos de viagens medievais, o recorte que propomos diz respeito a um texto que descreve as experincias vividas e informaes coletadas de terceiros no intuito de comunicar algo, de levar essas informaes a um pblico especfico.
No de se surpreender que os judeus tenham se mostrado particularmente fascinados com as histrias acerca de seus conterrneos distantes, principalmente aps o alargamento dos horizontes geogrficos que, concomitante com a ampliao do comrcio internacional e o crescimento da curiosidade cientfica em outras terras e povos contriburam com a popularizao dos dirios de viagem judaicos e no judaicos. As desavenas com cristos e muulmanos levavam esse povo a se interessar sempre que ouviam que em algumas regies ainda existiam tribos judaicas que no eram sujeitas dominao estrangeira.
Propomo-nos em investigar como R. Benjamin caracteriza as muitas comunidades judaicas com as quais travou algum contato e buscou apreender, a partir disso, os mecanismos de identidade a alteridade operando no interior de sua prpria religio.
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Robson Murilo Grando Della Torre (Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes)
Nestrio, um estrangeiro em Constantinopla? Uma discusso acerca de integrao e regionalizao no mundo romano no sculo V d.C.
Resumo:Nestrio, bispo de Constantinopla entre 428 e 431,...
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Resumo:Nestrio, bispo de Constantinopla entre 428 e 431, teve seu breve episcopado marcado por um intenso faccionalismo local que impunha forte resistncia a suas aes e proposi-es teolgicas. Embora apoiado pelo imperador Teodsio II (ou assim ele e vrios de seus contemporneos queriam acreditar) e por vrios oficiais imperiais locais, Nestrio se viu rapidamente isolado em sua comunidade eclesistica e logo se viu desafiado em sua autoridade por rivais episcopais espalhados por praticamente todas as provncias de lngua grega no Imprio, mormente capitaneados por Cirilo, bispo de Alexandria, que questionava suas credenciais ortodoxas por meio do debate doutrinrio acerca do estatu-to de Maria como Theotokos e, por conseguinte, da relao entre a humanidade e a divindade de Cristo. Os poucos bispos que se alinharam em sua defesa tinham por trao comum pertencerem, em sua maioria, a regies ligadas autoridade e prestgio eclesisti-co do bispo de Antioquia, sendo denominados nas fontes de poca como bispos orien-tais. Eram prelados de provncias como as Cilcias, as Srias, as Fencias, a Mesopot-mia, a Osroene e a Arbia, todas elas pertencentes quilo que ento constitua como a diocese do Oriente. Coincidncia ou no, Nestrio era ele prprio oriundo desse meio, tendo nascido em Germancia, na Cilcia, e tendo feito sua formao em Antioquia, on-de foi monge at sua eleio episcopal e para onde regressou to logo foi condenado no conclio de feso de 431. Tambm chama a ateno o fato de parte expressiva dos ofici-ais imperiais que o apoiavam serem de origem sria ou mesmo possurem fortes conexes polticas com essa regio, como se pode demonstrar por meio de um estudo prosopogr-fico minucioso. Para alm disso, no s Nestrio por vezes se fazia representar como um estrangeiro em Constantinopla como ele era assim chamado por contemporneos como o historiador Scrates de Constantinopla, cuja primeira verso de sua obra comeou a cir-cular em 439. Diante desses apontamentos, pretendo discutir nesta apresentao as po-tencialidades e os limites da integrao poltica, cultural e religiosa que se descortinava nesse Imprio romano tardo antigo a partir dessas conexes e resistncias vivenciadas por Nestrio, bem como refletir sobre algumas tendncias a certa regionalizao desse mesmo Imprio.
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Ana Beatriz Siqueira Bittencourt (UFF - Universidade Federal Fluminense)
Guerra e Identidade: O judeu e o romano nas obras de Tcito e Flvio Josefo
Resumo:A Primeira Guerra Romano-Judaica, ocorrida entre o...
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Resumo:A Primeira Guerra Romano-Judaica, ocorrida entre os anos 66 e 73 d. C., o marco da insatisfao dos judeus perante a dominao romana da regio da Judeia. Se estendendo por um perodo considervel, o conflito se destaca na histria da relao entre romanos e judeus em diferentes aspectos. Ao final, as foras romanas conseguem subjugar os rebeldes com a tomada de Jerusalm, destruio de parte da estrutura da cidade, a emblemtica destruio do Templo, e a tomada do ltimo posto de resistncia situado em Massada.
Sobre este conflito, destacam-se duas importantes narrativas: a de Tcito (Histrias, V, 1-13) e a de Flvio Josefo (Guerra dos Judeus), autores respectivamente de origem romana e judaica. Neste sentido, se constri o que ser aqui trabalhado a medida que se compara as narrativas sobre a mesma guerra, a fim de perceber a viso de cada autor sobre a identidade romana e a identidade judaica. Posto isto, preciso relacionar tais obras proposta de trabalho das identidades, ns e os outros, e suas relaes ainda sim fluidas, abarcadas por conceitos como o de fronteira tnica, empregada por Fredrik Barth, onde a etnicidade construda entre e a partir da interao social. Pensando no contexto da narrativa da guerra tem-se claro a ideia de que esses relatos so especiais por apresentarem de forma prtica o acirramento do confronto identitrio, onde chocam-se e destacam-se as diferenas.
Dessa forma, o trabalho em desenvolvimento se prope a partir da anlise das narrativas elaboradas por Cornlio Tcito e Flvio Josefo sobre a Primeira Guerra Romano-Judaica, identificar a viso de cada autor acerca das identidades do judeu e do romano, destacando-lhes as especificidades, e as estratgias discursivas empregadas na construo de ambas as identidades em cada autor trabalhado, e como uma utilizada de contraponto outra.
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Alinde Gadelha Khner (SEEDUC RJ)
Representaes de cristos na Historia Roderici
Resumo:Rodrigo Diaz de Vivar, mais conhecido como El Cid,...
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Resumo:Rodrigo Diaz de Vivar, mais conhecido como El Cid, foi um cavaleiro castelhano que viveu no tumultuado sculo XI da Pennsula Ibrica. Por ter sido vitorioso em muitas batalhas e ter conquistado a cidade de Valencia aos muulmanos, El Cid teve sua histria narrada desde o sculo XII at o sculo XXI, em diversos recontos, sob diversos gneros, desde gestas e poemas at video-games. A sua biografia exata por ns desconhecida, pois so poucos os documentos assinados pelo Campeador e as narrativas medievais sobre os seus feitos so repletos de anacronismos, apontados por especialistas nas ltimas dcadas de estudos focados em suas aes e nos textos em que figura ou protagonista. Ao menos trs livros foram lanados com a sua biografia, cada um deles sob uma diferente perspectiva.
Uma das primeiras obras a ter o Cid como protagonista uma gesta do quarto final do sculo XII, conhecida como Historia Roderici. Prosa latina, possivelmente foi escrito por algum relacionado ao mosteiro - poca cluniacense - de Santa Maria la Real de Njera. A referida composio uma das duas a ser analisada em nossa tese de doutorado, que tem como objetivo analisar de forma comparada as representaes das relaes entre cristos e muulmanos - o contraste ser com o Poema de Mio Cid. Como parte da pesquisa, necessria uma anlise das representaes dos cristos na Historia Roderici, a fim de compreender como estas relacionam-se com os interesses do referido mosteiro. Para tanto, sero objeto de exame as aes perpetradas pelos cristos, tais como as adjetivaes empregadas referentes a esses personagens. Sero estes motivados pelo credo, ou por motivaes majoritariamente polticas e econmicas? Suas aes so qualificas somente pela f que professam ou por estarem de acordo ou desacordo com os interesses polticos e econmicos do autor annimo relacionado ao mosteiro?
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Flix Jcome Neto (Universidade de So Paulo)
Dioniso e a salvao da cidade em As Bacantes de Eurpides e As Rs de Aristfanes
Resumo:Na introduo da sua traduo italiana de As Bacan...
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Resumo:Na introduo da sua traduo italiana de As Bacantes de Eurpides, Vincenzo Di Benedetto afirma que squilo evitou associar o deus Dioniso polis, preferindo explorar os aspectos exticos e emotivos do deus. Independentemente de saber se essa afirmao inteiramente adequada, o mesmo no pode ser dito sobre as preferncias de Eurpides e Aristfanes na ltima dcada do sculo V a.C. Estes dramaturgos escreveram, quase ao mesmo tempo, duas peas, As Bacantes (Eurpides) e As Rs (Aristfanes), que associam Dioniso diretamente com o destino da polis grega.
Nestas duas peas, a cidade cmica, no caso de Aristfanes, e trgica, em Eurpides, possuem algo em comum: elas esto falhando em honrar apropriadamente Dioniso e seus ritos, o que fornece o motor que impulsiona a narrativa teatral destes dramas. Em As Rs, Dioniso est insatisfeito com a qualidade das produes teatrais que estavam sendo realizadas em Atenas em sua homenagem. Para o deus, os dramaturgos que esto apresentando seus trabalhos nos festivais dramticos atenienses so medocres e s corrompem a arte, ao o que os grandes dramaturgos (squilo, Sfocles e Eurpides) j esto mortos. Dioniso, ento, desce ao mundo dos mortos para ressuscitar seu poeta dramtico preferido. Em As Bacantes, a falha da cidade em relao a Dioniso ainda pior: Tebas, principalmente por meio do seu rei Penteu, recusa-se a aceitar a divindade de Dioniso e a instalar seus ritos. Em resposta, o deus castiga Penteu e a famlia real de Tebas, afirmando o poder divino face arrogncia do monarca que pretendia ver sua cidade livre das influncias bquicas.
Assim, As Bacantes de Eurpides e As Rs de Aristfanes encenam uma cidade em falta relativamente s honras de Dioniso. Diante disto, o deus aparece pessoalmente para remediar a situao e instalar (ou reinstalar) adequadamente a sua adorao, o que surge, em ambas as peas, como uma condio para a salvao da cidade. Partindo de uma abordagem que insere o aspecto religioso no corao da tarefa interpretativa acerca do teatro grego, esta comunicao discutir possveis razes para Eurpides e Aristfanes terem recorrido ao deus do vinho e do teatro como protagonista que aparece como salvador da polis neste momento histrico preciso, que foi caracterizado pelos ltimos anos da Guerra do Peloponeso.
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Amanda Karolina da Silva Santos (UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Teatro grego na escola: uma ferramenta didtica para compreenso da religio e religiosidade grega
Resumo:Essa pesquisa discute as dificuldades no ensino da...
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Resumo:Essa pesquisa discute as dificuldades no ensino da religio grega nas aulas de Histria Antiga a partir de peas teatrais como as Bacantes e Hiplito, partindo de uma anlise do discurso e das prticas sociais. A elaborao desta pesquisa aspira a entender a formao do esprito crtico e investigativo do indivduo em contexto escolar, contribuindo para a dinmica do profissional de Histria em suas aulas. As utilizaes de peas gregas teatrais do tragedigrafo Eurpedes sero um elo entre o conhecimento, a atualidade e o ado, proporcionando aos estudantes a viso de um recorte especfico da religio e religiosidade grega no sc. IV e V A.E.C. . Ao ter contato com as peas os discentes podero analisar os conceitos e elementos da religio grega, assim como vestimentas, costumes, libaes, cultos e tantos outros elementos, construindo debates acerca da religio politesta e tambm uma observao de como os estudantes a recepcionam em seu cotidiano. Trabalhar a religio grega em sala de aula, permitir um processo de busca pelo respeito a diversidade religiosa, tendo em vista que vivemos em uma sociedade na qual estamos acostumados a uma realidade crist. preciso que exista um debate, apresentando as diferenas das outras religies, que elas foram importantes, que nos deixaram traos e hbitos. Apresentar tambm que as religies so diversificadas, possibilitando a compreenso de si e de uma viso mais ampla de outras culturas, por isso se faz preciso o exerccio do conceito de tolerncia. Concomitantemente, sero ensejadas reflexes com o propsito de exercitar a leitura, a interdisciplinaridade, bem como compreender e interpretar os fatores relacionados e estudados dentro dos contextos histricos das peas. Assim, a pesquisa a ser apresentada prope que o teatro Grego tambm possibilita despertar nos indivduos a busca pelo conhecimento de uma religio oposta a perspectiva monotesta em nossa cultura.
palavras-chave: Ensino- Histria- Antiguidade- Teatro Grego
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Mauricio da Cunha Albuquerque (Universidade Federal de Pelotas)
A Batalha do Milnio - Ricardo I vs Saladino: Um Estudo Comparativo sobre a Mitificao da Terceira Cruzada, nos Romances Coer de Lyon (XV) e The Talisman (1825)
Resumo:No ano de 1190 d.c, o Rei da Inglaterra, Ricardo I...
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Resumo:No ano de 1190 d.c, o Rei da Inglaterra, Ricardo I, partiu com um grande exrcito para retomar a cidade sagrada de Jerusalm, naquele momento sob domnio do Isl. Junto de outras lideranas, como o Rei Felipe II da Frana e o Imperador germnico Frederico I, Ricardo deixou seu reino com o objetivo claro de trazer a cidade de volta s mos do cristianismo e da Igreja. Vrias acontecimentos se sucederam ao longo do caminho; Frederico veio a falecer antes mesmo de chegar Palestina, Felipe II abandonou a expedio logo que os contingentes cruzados conquistaram a cidade de Acre, deixando a Ricardo I o papel de liderar tal empreitada. O conflito que hoje conhecemos como Terceira Cruzada foi marcado, entre tantas outras coisas, pelo protagonismo do monarca ingls (ou pelo menos, assim fazem parecer os seus cronistas) que, apesar de no ter conseguido alcanar seu objetivo principal, entrou para a Histria como o grande Rei-Cavaleiro, modelo de coragem, bravura e da causa cruzadista.
Poucas dcadas aps sua morte (1199 d.c), comea a surgir uma lenda que ainda hoje se faz presente na imaginao popular quando pensamos neste personagem: o duelo contra saladino. Esta representao aparece, primeiramente, nos ladrilhos da abadia de Chertsey (XIII) e posteriormente a a estar presente em manuscritos, em forma de iluminuras - como no saltrio de Lutrell (XIV), e tambm em romances mtricos - como na obra Coer de Lyon (XIV). Trata-se, em linhas gerais, de um mito, tanto no sentido mais corriqueiro do termo (como algo que, de fato, no aconteceu) quanto no sentido poltico, de uma fabulao concebida dentro de uma plataforma ideolgica.
Seis sculos mais tarde, o romancista escocs Walter Scott escreve o romance histrico The Talisman (1825), retratando, em dado momento, a mesma cena mas com uma conotao bastante diferente da "original". luz das noes de mito-crtica, imaginrio e mito-poltico, lanamos um abordagem comparativa entre o romance medieval Coer de Lyon e o romance moderno The Talisman, avaliando como o mito da Batalha do Milnio apropriado e ressignificado em diferentes momentos histricos.
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Bruno Uchoa Borgongino (Universidade Federal de Pernambuco)
Cor e raa antes da modernidade? O tropo do negro etope no discurso cristo tardo-antigo
Resumo:Em 1970, o historiador norte-americano Frank Snowd...
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Resumo:Em 1970, o historiador norte-americano Frank Snowden Jr. publicou o livro Blacks in Antiquity: ethiopians in greco-romano experience. O estudo analisava os encontros de gregos e romanos com negros provenientes da frica, desde Homero at o governo de Justiniano. O tema j havia sido explorado em estudos anteriores, como na tese de Grace H. Beardslay publicada em 1922. Contudo, o trabalho de Snowden consistia na primeira investigao sistemtica pautada num corpus documental ampliado, que contemplava literatura, numismtica, imagens e acervo arqueolgico.
Dentre as hipteses levantadas pelo autor, uma teve particular repercusso: a de que inexistiria preconceito de cor no mundo antigo. Segundo postulou, a representao da negritude teria sido realizada como uma curiosidade cientfica e para o contraste fisionmico em relao aos grupos greco-romanos, no como meio de inferiorizao. Os etopes, designao indistintamente aplicada a todos os negros, eram enquadrados num discurso mais amplo que opunha gregos e romanos aos no-gregos e no-romanos, numa contraposio em que outros grupos humanos estariam inseridos. No penltimo captulo, dedicado s atitudes do cristianismo antigo, Snowden argumentou que o preconceito de cor continuou ausente. A referncia grego-romana do etope como o mais negro e remoto dos homens era empregada pelos cristos para afirmar a universalidade da f, sem conotaes negativas. Tais concluses serviriam de premissa a outro livro de Snowden: Before color prejudice: the ancient view of blacks, publicado em 1983.
As teses de Snowden estavam em consonncia com uma ideia ento em voga: a de que a hierarquizao racial que supunha o negro como inferior consistiria num fenmeno moderno, atrelado ao colonialismo europeu, massiva escravizao africana, e aos saberes cientficos de sculos recentes. A partir de fins da dcada de 1990, diversos antiquistas e medievalistas contestaram tais premissas e a obra de Snowden, atestando a existncia de discursos raciais anteriores modernidade. Por vezes, os investigadores que defendem essa nova perspectiva apontam criticamente para os contextos e projetos histricos em que foram construdas essas imagens de uma pr-modernidade isenta de discriminao racial.
Neste trabalho, alinho-me com a renovao historiogrfica recente na rea de Histria Antiga e Medieval. Meu objetivo avaliar as potencialidades do conceito de raa para o estudo dos usos do tropo do negro etope no discurso cristo tardo-antigo (sculos IV a VII), tendo em perspectiva as implicaes tericas e polticas dessa escolha terica. Saliento que as reflexes a serem apresentadas, ainda em estgio inicial, derivam de uma pesquisa recentemente iniciada a respeito do tema.
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ST 11 - Sesso 3 - Sala 11 - Dia 18/09/2020 das 14:00 s 18:00 2p2zb
Local: Sala 11
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Amanda da Cruz Xavier (Universidade do Estado Rio de Janeiro)
Ecos Sobre o Papel da Mulher na Idade Mdia a Partir do Saber de Trotula de Salerno
Resumo:
Amanda da Cruz Xavier
Marta Silveira de Carvalh...
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Resumo:
Amanda da Cruz Xavier
Marta Silveira de Carvalho
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
RESUMO:
A finalidade desta comunicao traar uma observao acerca da literatura medieval, atravs dos escritos de Trotula de Salerno. Trotula de Salerno viveu entre os sculos XI e XII, na Itlia, e produziu textos mdicos relacionados anatomia e fisiologia feminina onde foram abordados assuntos como a menstruao, o puerprio e a concepo, dentre outros. Hildegarda de Bingen nasceu em Bermersheim, prxima a Mainz, foi uma monja beneditina, mstica, teloga, compositora, mdica, naturalista dentre outras atividades e considerada, pela Igreja Catlica, como santa e doutora.
Projeta-se refleti nesse trabalho, com base nos escritos de Hildegarda de Bingen, as discusses por elas implementadas acerca da realidade social e das representaes elaboradas em torno da condio feminina. Como fonte primria de pesquisa utilizou-se o livro Trotula de Ruggiero: Sobre as Doenas das Mulheres que reune tradues dos Tratados de Trotula organizado por Karine Simoni. Nessa obra discutem-se as pesquisas realizadas por Trotula sobre o corpo feminino, aproveitando-se das suas prprias experincias pessoais, para fundar saberes em torno da medicina feminina.
Para realizar-se a anlise da fonte, ser utilizada a anlise de discurso e, como e terico e historiogrfico sero utilizadas reflexes em torno dos escritos de Michelle Perrot, Rita Schmidt, Jacques Le Goff, Pina Boggi Carvalho, dentre outros.
Palavras-Chave: Literatura medieval, Representao feminina, Histria das mulheres, Escritos Mdicos.
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Rafaella Marques Farias (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Uma conversa com o diabo: a corrupo dos oficiais de justia no conto do Frade de Geoffrey Chaucer.
Resumo:Os elementos presentes no Conto do Frade, um daque...
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Resumo:Os elementos presentes no Conto do Frade, um daqueles que compe os Contos da Canturia de Geoffrey Chaucer, so capazes de nos falar bastante sobre a viso do poeta ingls acerca da corrupo dos oficiais de justia. O conto est em meio a uma discusso, que vem se desenrolando desde o conto anterior, o da esposa de Bath, entre dois personagens: o Frade e o Oficial de Justia (Beleguim). Como forma de vencer a briga e mostrar a m fama dos oficiais, o Frade conta a histria de um oficial de justia corrupto cuja ganncia o levou ao inferno. Enquanto entregava intimaes para o tribunal eclesistico, o oficial se encontra com um viajante misterioso, que acaba revelando ser o prprio Diabo. Uma longa conversa entre os dois faz emergir os segredos e astcias de suas profisses, e o Diabo fala que eles acabaro se encontrando no inferno se o oficial continuar a trabalhar assim. Depois, o oficial visita uma senhora viva e entrega uma intimao, mas oferece a possibilidade de um suborno como pagamento para impedir sua excomunho. A senhora acredita que no tem pecados e amaldioa o oficial ao inferno. O Diabo agora tem permisso para lev-lo. Ao final do Conto do Frade, o Oficial de Justia se enfurece e, antes de comear sua histria, explica que uma vez um Frade visitou o Inferno e o anjo que o acompanhava levantou a cauda de Sat e milhares de frades saram correndo de l.
Alm de todo simbolismo presente, o conto e os dilogos entre os personagens tm como plano de fundo uma Inglaterra em que a as crticas de Wyclif Igreja e s vendas de indulgncias esto se difundindo fortemente. provvel que a abordagem de Chaucer do tema tenha a ver com a sua possvel aproximao com John Wyclif e com o patrono que tinham em comum, John Gaunt. Nesse caso, a presena do Diabo no conto de Chaucer no seria por acaso: Wyclif afirmava que os Frades e os vendedores de indulgncias eram a personificao do diabo devido s suas cobias e que o lugar desses trapaceiros era no inferno, ao lado do Diabo.
notrio que Chaucer escancara problemas sociais e ticos em seus contos, por isso, o objetivo deste trabalho investigar e compreender melhor a relao de Chaucer com seu mundo e como se dava sua conexo com John Gaunt, visto que tambm trabalhava em uma corte ortodoxa como a de Ricardo II, da Inglaterra. Assim, trabalhando a partir da hiptese de sua provvel aproximao com Wyclif e seus pensamentos reformistas atravs de Gaunt, procuro examinar os elementos presentes no Conto do Frade de Chaucer para tentar apreender at que ponto a escrita do poeta foi influenciada.
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Douglas de Freitas Almeida Martins (UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso)
Governar os corpos, reger as almas: a emoo como instrumento poltico nas vitas de Francisco de Assis no sculo XIII
Resumo:
Nos ltimos 30 anos a historiografia ocidental i...
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Resumo:
Nos ltimos 30 anos a historiografia ocidental incorporou as emoes como parte fundamental de suas anlises e reflexes. Tendo em vista as crticas endereadas a historia das mentalidades, principal corrente historiogrfica da academia sa nas dcadas de 1960 e 1970, e os importantes avanos no campo da neurocincia, que produziu nos Estados Unidos, sobretudo a partir de fins do sculo XX, uma quantidade considervel de dados a respeito do funcionamento do crebro e das emoes, os historiadores se tornaram mais interessados no estudo das formas de sentir e das expresses emocionais nas sociedades pretritas. A emoo se tornou uma das protagonistas do conhecimento histrico e foi abordada em suas mais diferentes faces, sejam elas culturais, polticas ou sociais e nas mais diferentes temporalidades e espacialidades histricas. No que concerne aos estudos sobre o franciscanismo, no entanto, possvel perceber que existe uma lacuna dentro do campo, precisamente no que se refere aos aspectos ligados a sensibilidade dentro da Ordem dos Frades Menores e de seu lder, Francisco de Assis. Esta comunicao tem por objetivo problematizar as emoes enquanto um conceito importante para o estudo do universo poltico dos frades minoritas no sculo XIII, tendo como horizonte documental as fontes hagiogrficas produzidas entre os anos de 1230 at 1260. A hiptese que comandar a apresentao reside na ideia que tais documentos se caracterizam como marcos representativos de uma poltica que tornou Francisco um elemento central para as ideias de caridade e fraternidade a partir do lugar ocupado pela emoo nas relaes sociais. Acredito que a presente pesquisa configure um esforo de reinterpretao sem, contudo, negar toda a contribuio acadmica referente ao tema de narrativas estabelecidas pela historiografia, para desse modo, explorar novas possibilidades.
Palavras-chave:
Emoes vitas franciscanismo
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Jonathas Ribeiro dos Santos Campos de Oliveira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
A dupla face do rei: a (in)perfeita imagem de Afonso I de Portugal na Vita Theotonii
Resumo:Nossa proposta tem por objetivo analisar como fora...
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Resumo:Nossa proposta tem por objetivo analisar como fora construda a imagem de Afonso I de Portugal na Vita Theotonii. Escrita na segunda metade do sculo XII, entre 1162 e 1163, por um cnego do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a obra narra o que teria sido a trajetria terrena do primeiro superior do Mosteiro, D. Teotnio. Fundado em 1131, tendo suas atividades iniciadas somente em 1132, a Cannica agostiniana teria vivenciado um processo de gradativa estruturao e organizao sob o primeiro priorado (1132 1154/62). O vnculo estabelecido com Afonso I de Portugal, sendo dele chancelaria e local de abrigo patrimonial, teria sido fundamental ao Mosteiro, uma vez que se configurara em base das dignidades adquiridas, bens e, mesmo, do capital simblico. A Cannica funcionara ao interesse rgio, entre outros, como ferramenta de controle dos limites territoriais no Mondego, tendo a ela sido concedido direitos regies, o que ampliara significativamente tanto a sua rbita de influncia no Condado quanto o vnculo estabelecido com a autoridade real. Embora a historiografia tenha majoritariamente analisado o texto crzio a partir dos feitos teotonianos, sobretudo para ressaltar a pressuposta santidade do falecido prior, outras tantas personagens aparecem e ocupam tambm papeis importantes no escrito, tornando manifesta, pelas escolhas narrativas, possveis questes que possivelmente permeavam o contexto de produo da obra e tornam mais instveis relaes supostamente regulares. Dentre as figuras presentes, Afonso I de Portugal se apresenta como aquela que, por um lado, permite, pela contraposio, delinear as santas qualidades de Teotnio e, por outro, constituir, a partir da lgica discursiva, tanto a crtica ao que era reprovado quanto o que era desejado da autoridade rgia. Nesse sentido, nossa preocupao recai em estudar as questes de fundo que teriam cercado a escrita da obra, analisando, por um lado, de que forma a imagem afonsina fora delineada no texto e, por outro, quais os fatores motivadores e possveis objetivos.
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Milena Rosa Arajo Ogawa (UFPEL - Universidade Federal de Pelotas)
Consideraes acerca das representaes do regime de Domiciano nas obras de Tcito
Resumo:Pretendo observar as lentes que nos so dadas pela...
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Resumo:Pretendo observar as lentes que nos so dadas pela documentao romana e pelas nossas prprias, isto , os conceitos e as experincias que a ps-modernidade nos proporciona sobre essas fontes. Ressalto neste trabalho como a presena da memria e da identidade so fundamentais para que os autores, sejam eles antigos ou modernos, adotem certas escolhas ao narrar suas histrias. Assim, ao propor esse ensaio, carrego linguagens e pensamentos diferentes daqueles circulantes no mundo antigo. Pois, como diz Marc Bloch (2001, orig., 1949, p. 60), o homem questiona a histria em seu tempo.
O trabalho ser estruturado em trs etapas para tecer algumas consideraes sobre o governo de Tito Flvio Domiciano (81-96 d.C.). As fontes utilizadas sero Agrcola, Histrias e Anais do historiador e senador romano Pblio Cornlio Tcito.
Primeiramente abordarei a discusso temporal da transio Repblica e Principado romano, a partir das discusses da revista Mare Nostrum estudos sobre o Mediterrneo Antigo, do ano de 2013, tendo conscincia de que os homens do primeiro sculo de nossa era no faziam uma clara distino entre a mudana institucional ocorrida na agem do regime da Repblica para aquele do Principado (ALSTON, 2008, p. 151). Somos ns, luz do distanciamento histrico, que buscamos uma periodizao com base em conjunturas polticas. Os antigos no nos deixaram dados suficientes para que pudssemos estabelecer tais categorias na atualidade (AGNOLON, 2013, p. 113), mesmo porque, no se preocuparam em qualificar ou delimitar o que era o Imprio Romano. Os autores contemporneos tm se esforado por definir este conceito multiforme e [...] cada autor antigo tem seu prprio Imprio Romano (ou mesmo vrios deles) (FAVERSANI; JOLY, 2014, p. 11). Disso que mencionamos, o que possumos so os vestgios, que muitas vezes esto desorganizados, disformes e incoerentes, e que tratam das resolues polticas de determinados indivduos que integraram a vida pblica em um momento especfico, e que refletiram mais do que comportamentos polticos: eles continham/eram o prprio status que a posio lhes conferia (GUARINELLO, 2013, p. 45).
No segundo momento debato algumas das relaes entre princeps e senadores a partir dos historiadores Moses Finley (1985, orig. 1982), Theodor Mommsen (1962), Vasily Rudich (1993), Gza Alfldy (1989, orig. 1975) e Andrew Wallace-Hadrill (1996).
Por ltimo analiso alguns excertos atribudos ao historiador Tcito, pensando como ele progride em sua carreira senatorial no perodo do ltimo imperador Flaviano (TAC., Hist., I, 1).
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Irlan de Sousa Cotrim (UFES - Universidade Federal do Esprito Santo), Marih Barbosa e Castro (IFES - Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Esprito Santo)
O elogio a Domiciano nos versos de Estcio (Achil. I. 1-19; Silv. I. 1. 66-107)
Resumo:No primeiro sculo da Era Comum as relaes sociai...
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Resumo:No primeiro sculo da Era Comum as relaes sociais entre os sujeitos que circundavam a domus imperial no Imprio Romano eram baseadas, primordialmente, no sistema de patronato e clientelismo. H uma profcua produo no campo historiogrfico e no das letras acerca do funcionamento daquela instituio na Roma Antiga. Dignas de nota, no cenrio internacional, so as contribuies de Saller (1982), Nauta (2002) e Rosati (2002) cujas hipteses foram matizadas por pesquisadores brasileiros como Leite (2003; 2008), Belchior (2009) e Baptista & Leite (2019). Podemos reconhecer a lgica das relaes de patronato e clientelismo nas prticas letradas latinas desde o alvorecer do Imprio (sc. I AEC) corporificada em elogios persona imperial, principal provedor de beneficia (benesses) aos poetas que versificavam suas glrias em busca de prestgio. De fato, por meio de sua ars o poeta estava submetido ao patrono (Baptista; Leite, 2019, p. 128). Pblio Papnio Estcio (40-95) foi um dos poetas subordinados s relaes de patronato no perodo em que Tito Flvio Domiciano foi o patronus e o governante do Imprio (81-96).
Nosso propsito foi o de analisar a primeira silva estaciana em que o poeta descreve a esttua equestre de Domiciano e o de estabelecer uma comparao deste encmio ao que presente em outra obra do mesmo autor, a Aquileida. Para tanto, lanamos mo do arcabouo terico e conceitual provenientes da retrica grega e latina no que diz respeito ao terceiro gnero discursivo a que o orador, ou, no caso de Estcio, o poeta, poderia se dedicar, o epidtico. A fortuna crtica sobre a obra potica de Estcio levou em conta suas vrias reminiscncias intertextuais. Exemplos so Crawley (1893), Dawnkins (1904), Damst (1907), Paton (1912), Friedlander (1931), Guerrini (1958), Kytzler (1960), Schetter (1962), Fantham (1979), King (1987), Lauletta (1993), Hinds (1998), Heslin (2005), Marks (2010) e mais recentemente serviu de mote para captulos de obras como o Flavian Epic Interactions (2013) e o Brills Companion to Statius (2015).
Em nosso entendimento, tanto na silva 1.1 quanto no promio da Aquileida (Ach. I. 1-19), Estcio no somente equipara seu patrono Domiciano a figuras como Jlio Csar e Alexandre, o Grande, mas seus versos elevam o imperador a um grau de superao daqueles modelos de comportamento (exempla) no campo das artes e em matria militar, respectivamente. Na silva 1.1, Domiciano supera Csar e Alexandre, o Grande, ao o que na Aquileida ele supera Aquiles. Por meio da anlise de contedo (Bardin, 2004), estabelecemos cinco categorias analticas para nosso corpus documental, a saber: a que personagem se refere, seus atributos fsicos, seus atributos militares, seus atributos religiosos e o espao em que a narrativa se a.
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Helton Loureno Carvalho (UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto)
A uilla rustica de Columella: representao e competio
Resumo:Uma fronteira importante de sinalizar, a respeito ...
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Resumo:Uma fronteira importante de sinalizar, a respeito do gerenciamento da propriedade rural, tal como descrito por Columella (e que podem ser estendidas para os tratados de Cato e Varro), que estas prescries no so descries concretas de uma propriedade especfica, mas prescries sobre o que estes proprietrios idealizavam como sendo o melhor tipo de terreno, a gesto da escravaria correta ou sobre o melhor modelo de cultivo. Isto porque estamos perante um circuito fechado: so textos escritos por membros de uma elite para os restantes membros dessa elite. Da que a uilla descrita seja uma construo ideolgica arquetpica, vista como um ncleo de virtudes idealizadas (CARNEIRO, 2017, p. 53) Contudo, procuramos demonstrar que a despeito da idealizao da propriedade, Columella parte de um referencial concreto e que deve ser compreendido dentro do processo de competio em que a atividade agrria compete com outras atividades econmicas. Assim, embora tenhamos ressaltado a sua nfase na uilla como um espao de produo econmica, por outro lado o significado que depreende de sua representao poltica uma vez que ele compete com outros indivduos sobre o que era mais ou menos compatvel com ideologia moral dos cidados romanos. Portanto, para esta comunicao pretendemos aventar que o debate sobre a funcionalidade e representao da uilla na sociedade romana se insere em um nvel mais amplo da competio aristocrtica. Esta competio reflete em questes como, por exemplo: sobre quais atividades econmicas concorrentes eram consideradas mais ou menos elevadas e compatveis com a ideologia do mos maiorum, ou seja, sobre quais modelos arquitetnicos e de apropriao dos solos eram os melhores e condizentes com os valores morais dos anteados. Assim, em grande medida, a descrio destas uillae e suas funcionalidades so utilizadas como forma de marcar um posicionamento no jogo poltico, bem como desqualificar ou elogiar outros membros da sociedade. Para tanto, propomos avaliar que as prescries de Columella sobre a uilla e sua funcionalidade evidenciam a sua estratgia de representao frente a competio aristocrtica pelos recursos econmicos e polticos poca do Principado.
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Renato Toledo Silva Amatuzzi (UFPR - Universidade Federal do Paran)
Os banhos no baixo medievo aragons: sociabilidade, moralidade e cura.
Resumo:Os banhos tiveram um papel fundamental durante a B...
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Resumo:Os banhos tiveram um papel fundamental durante a Baixa Idade Mdia. A utilizao das guas como um elemento essencial no processo de estabilizao dos humores, conferiu a prtica de banhar-se um importante teor mdico, sendo recomendado para o tratamento de diversas enfermidades e desordens humorais. Na Coroa de Arago, durante os sculos XIII e XIV, as antigas termas romanas foram reformadas e ressignificadas, integrando-se s prticas islmicas dos hamames e permeadas pelo forte simbolismo cristo de purificao e batismo atravs da gua, ganhando bastante popularidade, sobretudo na regio de Barcelona, sede das famosas Caldas de Montbui. Esse destaque proporcionou diversos investimentos reais e municipais interessados nos poderes curativos e, principalmente, nos atrativos fiscais, transformando-as em dinmicos espaos de sociabilidade alm de um atraente comrcio local recebendo as comitivas reais periodicamente. O grande movimento de pessoas tambm atraiu os olhares moralistas do clero local, condenando as prticas libidinosas naquelas cercanias atravs de decretos e regulamentaes de cunho religioso. As fontes utilizadas para a anlise foram um conjunto de cartas trocadas entre o monarca Jaime II (1291-1327) com seus familiares e conselheiros, trechos do regimento de sade do Regimen Sanitatis ad Regem Aragonum (1308), escrito pelo fsico real Arnaldo de Vilanova e os decretos valencianos regulamentando os usos das termas locais. Ao relaciona-las com o contexto histrico da poca, teremos uma percepo mais abrangente e mltipla dos diferentes discursos acerca de uma atividade to corriqueira, mas dotada de significados medicinais, religiosos, estticos e tambm recreativos distanciando e desmantelando a viso preconceituosa do medievo como uma poca de sujeira e imundice.
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Vinicius da Silva Proena (UNESP - Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho)
O aumento do patrimnio eclesistico no reino visigodo durante o domnio de Sisenando 631-636
Resumo:O aumento do patrimnio eclesistico no reino visi...
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Resumo:O aumento do patrimnio eclesistico no reino visigodo durante o domnio de Sisenando 631-636
Vincius da Silva Proena
Mestrando em Histria/UNESP Assis
Objetivo:
Este trabalho pretende analisar os motivos pelos quais o patrimnio eclesistico catlico sofreu acrscimos durante o reinado de Sisenando, no reino visigodo no sculo VII. Atravs da bibliografia disponvel sobre o perodo e das atas conciliares do reino, buscou-se compreender as motivaes que levaram ao aumento dos poderes econmico e poltico da Igreja durante o reinado do ento governante.
Justificativa:
Dentro do cenrio conturbado que se encontrava o reino visigodo do sculo VII, o objetivo deste trabalho analisar o motivo pelo qual o patrimnio eclesistico teve um favorecimento considervel, tendo em vista que Sisenando precisou do apoio clerical para justificar sua posio como novo rei dos godos. As usurpaes eram recorrentes dentro do reino, entretanto a necessidade de legitimao se faz presente, pois os novos monarcas precisavam de apoio para governar e a Igreja se configurava uma influente fora poltica. Para alm do papel religioso, a Igreja tinha uma funo poltica significativa dentro do contexto visigtico, sendo capaz de conferir ou no legitimidade a um governante. necessrio lembrar que na Idade Mdia e, principalmente nesse perodo e localidade, o governante era um escolhido de Deus para guiar o povo, o qual deve ser respeitado por todos. Dessa forma, como legitimar um usurpador? A conjuntura em que ascende Sisenando ao poder contraditria na medida em que ele, um duque provincial, trai o ento governante, Suintila, tomando o trono para si com o apoio dos francos e amparado pela Igreja. Ao analisar as fontes conciliares e cruz-las com a historiografia do perodo, ser possvel enxergar quais foram os benficos que a Igreja Catlica conquistou com tal e ao monarca e entender quais foram os procedimentos adotados pela instituio para proteger o novo governante que conseguiu ascender ao trono por usurpao. O que a Igreja ganhou com isso em termos financeiros e polticos? Quais foram as estratgias e discursos adotados para justificar o novo governante? O que Sisenando pode oferecer em troca dos favores prestados por essa classe religiosa, que parece to atrelada ao poder poltico do reino? Essas so algumas das questes que o presente trabalho tem por objetivo responder.
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Victor Mariano Camacho (Universidade Pitgoras Unopar)
A viso franciscana acerca do saber durante primeira metade do sculo XIII nas hagiografias sobre Antnio de Pdua
Resumo:Os Frades Menores que surgiram na primeira metade ...
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Resumo:Os Frades Menores que surgiram na primeira metade do sculo XIII, a partir da experincia de Francisco de Assis, ao longo dos anos, deixaram de ser uma instituio composta essencialmente por leigos e cada vez mais se inseriram em ambientes com intensa circulao de saberes, sobretudo no espao da universidade. Contudo, o cultivo da erudio era alvo de discusso entre os religiosos, visto que em uma sociedade de maioria iletrada, o letramento acabava representando tambm status, entrando em conflito com o princpio da humildade que deveria ser cultivado pelos frades. Este trabalho analisa em perspectiva comparada, como este elemento, ou seja, a aquisio de saberes aparece nas trs primeiras hagiografias que narram a vida e os milagres de Antnio de Pdua, religioso franciscano e letrado, canonizado pela Igreja em 1232.
As hagiografias delimitadas so a Vita Prima Sancti Antonii, tambm denominada de Legenda Assdua, texto de autoria annima escrito logo aps o reconhecimento da santidade de Antnio em 1232; a Vita Sancti Antonii Confessoris, conhecida tambm como Vida Segunda, cuja autoria atribuda ao frade Juliano de Espira datada por volta de 1235 e o Dyalogus de Gestis Beati Antonii, conhecido como Dialogus, texto tambm de autoria annima, datado por volta de 1245 e 1246.
No meu estudo, adoto a perspectiva de comparao proposta por Paul Veyne que busca identificar em fenmenos a primeira vista semelhantes, suas peculiaridades, promovendo, portanto um inventrio das diferenas. Por meio da comparao dos textos, busco identificar no apenas os elementos em comum, mas, sobretudo aquilo que distingue as legendas que por narrarem a vida de um mesmo personagem, aparentemente so iguais, mas que por terem sido escritas em locais e a partir de diferentes demandas, apresentam particularidades entre si.
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Uiran Gebara da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Uma Histria Antiga neofascista no Brasil
Resumo:O propsito desta apresentao propor uma reflex...
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Resumo:O propsito desta apresentao propor uma reflexo a respeito do papel que o estudo da Antiguidade e, em particular, da Histria Antiga, desempenha na cultura brasileira e, em que sentido esse papel tem sido historicamente associado construo de uma identidade nacional conservadora, representante de uma vinculao naturalizada Europa e ao Ocidente. Dentro deste contexto mais amplo, busca-se examinar a recente (re)captura ou sequestro da Antiguidade pela verso mais extrema dessa perspectiva conservadora, manifesta nos movimentos neofascistas que por ora controlam o governo brasileiro. Para fazer isso, primeiro fao uma breve apresentao da a abordagem a ser utilizada aqui, oriunda do campo de estudos histricos denominado dos usos do ado. E em seguida, apresento algumas propostas de definio do neofascismo de forma a dar conta das diferenas e impressionante semelhanas que os movimentos contemporneos apresentam em relao ao nazifascismo de meados do sculo XX. O o seguinte da apresentao ser apresentar e analisar os usos da Antiguidade e do Humanismo associado aos Estudos Clssicos por perspectivas contemporneas conservadoras e de direita, para em seguida focar a minha anlise na presena e nos usos da Antiguidade em um discurso do atual Ministro das Relaes Exteriores, Ernesto Arajo, um dos principais representantes do pensamento de extrema-direita no Brasil (datavenia para denominar tais articulaes de ideias de pensamento). Concluo com uma reflexo sobre a necessidade de disputar a Antiguidade em nossa cultura, problematizando a noo de legado como parte de um movimento mais amplo de provincianizao da Histria Europeia, e com a demanda de uma Antiguidade desocidentalizada e deseuroepeizada. E, como consequncia, olhar para a Antiguidade, como parte integrante e inalienvel dos saberes histricos, mas que seja apropriada de forma a servir de inspirao a uma identidade brasileira plural e emancipadora.
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