Resumo: Resumo
No longo perodo em que o Brasil viveu sob uma ditadura militar, as resistncias democrticas aos militares se apresentaram de diversas formas, sobretudo aps o Ato Institucional n. 5 de 1968. Jornalistas, religiosos, advogados, operrios e artistas, entre os quais muitos que haviam apoiado o golpe de 1964, aram a se opor aos arbtrios do regime. Do cinema poesia, dos grafites msica, das artes visuais s artes cnicas, vrias foram as formas que o campo artstico criou para resistir s violncias cometidas por agentes do Estado autoritrio como forma de defender a democracia, a liberdade e a justia social. A relevncia das artes foi potencializada, j que o sentido poltico que estas trazem em si, como questes ligadas a desigualdades sociais, gnero e raa, assim como temas do cotidiano, ganhou novo contorno, pois diversificou as estratgias de enfrentamento ditadura.
Assim, o complexo sistema repressivo, que comeou a ser montado logo aps o golpe, com a criao do Servio Nacional de Informaes, em junho de 1964, sempre manteve o campo artstico e os artistas sob vigilncia. Censura, espionagem, polcia poltica e propaganda foram mobilizados para impedir manifestaes artsticas que contrariassem os ideais autoritrios e conservadores do regime.
Este Simpsio Temtico busca acolher trabalhos que, de alguma forma, tenham questes ligadas s produes de arte e/ou artistas e a represso durante os vinte e um anos de ditadura no Brasil.
Bibliografia
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposio no Brasil (1964-1985). Bauru: Edusc, 2005.
ARAJO, Paulo Csar de. Eu no sou cachorro, no: msica popular cafona e ditadura militar. 5. edio. Rio de Janeiro: Record, 2005.
FICO, Carlos. Como eles agiam. Os subterrneos da ditadura militar: espionagem e polcia poltica. So Paulo: Record, 2001.
FICO, Carlos. Prezada Censura: Cartas ao regime militar. In. Topoi. Ano 5, vol. 3, 2002.
KUSHNIR, Beatriz. Ces de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 Constituio de 1988. So Paulo: Boitempo Editorial, 2004.
MARCELINO, Douglas tilla. Subversivos e pornogrficos. Censura de livros e diverses pblicas nos anos 1970. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2011.
NAPOLITANO, Marcos. Corao Civil. A vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985). So Paulo: Intermeios, 2017.
ST 03 - Sesso 1 - Sala 03 - Dia 16/09/2020 das 14:00 s 18:00 2q6x4i
Local: Sala 03
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Lorenzo Tozzi Evola
A trajetria de Ferreira Gullar e a publicao de Cultura posta em questo (1957-1965)
Resumo:O ano de 1961 pode ser lido como uma espcie de po...
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Resumo:O ano de 1961 pode ser lido como uma espcie de ponto de inflexo na trajetria de Ferreira Gullar. Ao assumir como diretor da Fundao Cultural de Braslia, no governo de Jnio Quadros, o poeta rapidamente se aproxima de Leon Hirzsman e Oduvaldo Vianna Filho, os quais representavam uma organizao que buscava estruturar-se naquele momento: o Centro Popular de Cultura. Um contato que inicialmente se daria em torno de o a verbas para a viabilizao do C logo se transformaria, com Gullar produzindo obras prprias para o grupo e participando ativamente de discusses internas, num envolvimento que poucos anos depois o levaria sua presidncia.
Antes de ir a Braslia, porm, Gullar vinha de uma outra experincia, com a vanguarda neoconcretista, da qual foi inclusive um dos principais idelogos. Indo alm da discusso terica, outra vez contribuiu com o movimento desenvolvendo obras de sua autoria, bem como em colaborao com outros artistas, at que, alegando um esgotamento das possibilidades de continuao de sua obra sob o guarda-chuva desta vanguarda, Gullar aos poucos se afastaria dela, o que abriu espao para a busca por um novo rumo potico.
Partindo dos debates e reflexes internos ao C dentro dos quais pululavam temas como a funo do artista na sociedade, a definio do conceito de cultura popular, quo prximas das massas deveriam ar a ser as obras de arte (e como essa aproximao poderia se dar) etc. , Gullar escreveria um livro de breves ensaios intitulado Cultura posta em questo, o qual pode ser considerado uma tentativa de sistematizao desses debates, com vistas tambm a um certo apaziguamento das tenses da organizao, afloradas com a circulao do polmico Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura, de Carlos Estevam Martins, a partir de maro de 1962.
em torno de Cultura posta em questo que eu gostaria de propor minha apresentao. Em minha dissertao de mestrado, enxergo-o sob dois vieses no dissociados. No primeiro deles (gnese), busco entender a construo do livro de Gullar enquanto bem simblico, olhando tambm para as condies editoriais muito peculiares e acidentadas nas quais se deu sua publicao. J no segundo vis, meu foco est no texto da obra em si, com destaque para a genealogia de algumas das ideias ali presentes, bem como para um cotejamento de alguns argumentos utilizados diante da obra anterior de Gullar, buscando identificar eventuais permanncias desde outros momentos de sua trajetria, em especial o neoconcrestismo. E, aproveitando a coincidncia envolvendo as datas do Simpsio e do depsito de minha dissertao, gostaria de aproveitar o espao para desenvolver uma espcie de relato final, contemplando todo o andamento de minha pesquisa.
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Eugenio Brito Rocha (UFPI - Universidade Federal do Piau)
A imprensa catlica e as tenses polticas no Piau nas folhas do jornal O Dominical (1960- 1964)
Resumo:Os anos que antecedem o golpe de 1964 so de extre...
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Resumo:Os anos que antecedem o golpe de 1964 so de extrema importncia para a compreenso do contexto e da circularidade de informaes em torno das tenses polticas no Brasil como tambm em outros estados.A impressa contribui para a formao das ideias relacionadas as discusses sobre os rumos da poltica brasileira. No Piau a imprensa tinha forte impacto em relao a opinio pblica tanto dos Teresinenses como no inteiro no Estado. nesse momento que o jornal O Dominical a efetivamente a insuflar uma discusso em torno do comunismo no Piau, abordando matrias que refletiam o contexto poltico regional e internacional. Essa discusso emerge em um dado momento em que o Pas ava por um perodo de instabilidade poltica, este momento caracterizado como os antecedentes do Golpe Militar no Brasil. A tenso provocada por este perodo que antecede o o Golpe Militar refletido no discurso presente na impressa do Piau, especificamente nas paginas do Jornal O Dominical que era editoriado pela Igreja Catlica. Nesse contexto utilizaremos como fio condutor desse trabalho as discusses acerca da ordem do discurso e suas relaes com o estado de exceo provocado pela chegada dos militares ao poder. Metodologicamente as discusses sobre as prticas discursivas proposta por Mary Jane Spink ajudam a compreender como essas prticas se articulam nas matrias do jornal, bem como a concepo de fontes dialgicas, classificadas por Jos de Assuno Barros como aquelas que possibilitam a manifestao de mltiplas vozes de um perodo. A partir das fontes analisadas, juntamente com os referenciais tericos propostos, destacamos que o jornal O Dominical se engaja em uma campanha que busca alertar a sociedade sobre os perigos do comunismo no Piau.
Palavras-chave: Histria; O Dominical; Tenses polticas.
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Amanda Costa Ferreira Lucio (UNIFESP - Universidade Federal de So Paulo)
O circuito da produo marginal no Brasil engendrado no Almanaque Navilouca (1974)
Resumo:Amanda Costa Ferreira Lucio (UNIFESP) bolsista d...
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Resumo:Amanda Costa Ferreira Lucio (UNIFESP) bolsista de IC (CNPq)
Orientadora: Prof. Dr. Maria Rita de Almeida Toledo (Profa. Associada UNIFESP)
No ps-1968 a represso militar promovida pelo AI-5 causou o fechamento dos espaos culturais, e contraditoriamente, acirrou desenvolvimento de diversos embates no campo das artes e cultura, aflorando a elaborao de novos espaos de atuao. A criao de um meio de sobrevivncia intelectual margem exercitou a liberdade de criao e opinio por cineastas, artistas plsticos, msicos, jornalistas etc. fomentando um circuito marginal no Brasil nos anos de chumbo (1969-1974) da ditadura civil-militar. Esta pesquisa busca analisar esta movimentao, esquadrinhando por meio do Almanaque Navilouca, lanado em primeira e nica edio em 1974 pelos poetas Torquato Neto e Waly Salomo com a colaborao de artistas que atuavam de forma semelhante em diversas reas artsticas.
Como espaos de sociabilidade, as revistas permitem o exame da fermentao intelectual e desenvolvimento de sensibilidades. Neste sentido, observar as relaes, reflexes e experincias trocadas entre os participantes auxilia a compreenso de seus projetos na dcada de 70. Estas iniciativas marginais so estudadas como aes engendradas de forma consciente por seus autores, para alm das abordagens da curtio, desbunde ou mimegrafo, pois atualmente o debate crtico sobre o tema envolve intrincadas trajetrias histricas ampliadas ao campo cultural brasileiro.
A composio de um banco de dados com o ano de publicao, existncia do editorial, autoria, sees etc. ofereceu uma apresentao da forma de organizao e frmula editorial aplicada. A anlise dos componentes das prticas editoriais e da materialidade descortinou as representaes do impresso, assim como as estratgias de circulao e distribuio. Tambm foram consultadas 10 correspondncias trocadas entre Torquato Neto, Hlio Oiticica e Lygia Clark entre 1968 a 1972 para traar o quadro de relaes, assim como o desenvolvimento de projetos no perodo e opinies observadas pelo prisma das relaes pessoais. Respaldando a ideia de um circuito estabelecido no dilogo esttico entre as publicaes assinadas pelo grupo, no qual a reunio destas obras prope o Almanaque como uma antologia materializada como um projeto cultural.
A interseo de linguagens, o no ordenamento do discurso e a esttica transgressora flexibilizaram o aspecto homogneo das artes. O baluarte destes artistas estava imbricado uma irrupo cultural que levou para o campo artstico as transformaes em curso, estabelecendo a quebra do automatismo artstico, abertura para a inveno e o experimental, assimilando as experincias nas obras, ao mesmo tempo que as inseriam como dimenses polticas.
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Milena Azevedo de Menezes (Bolsista)
Entre o medo e o fascnio: imaginao televisual e modernizao na imprensa (1964-1968).
Resumo:O presente trabalho tem como objetivo traar a pro...
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Resumo:O presente trabalho tem como objetivo traar a produo intelectual sobre televiso em cadernos culturais da grande imprensa e imprensa alternativa do eixo SP-RJ, durante a ditadura civil-militar. O objeto de estudos consiste na formao de um crtica televisiva, presente nesses cadernos culturais como colunas de televiso. No h dvidas quanto ao impacto que a televiso como meio de comunicao de massa, na segunda metade do sculo XX, produziu para que diversas produes literrias, filosficas, sociolgicas, dentre outras, situassem o tema como central para debate. No Brasil, a TV tornou-se, para muitos dessas produes, sinnimo de desenvolvimento da industrializao no Brasil, o que contribuem para os estudos sobre o processo de urbanizao e intensa industrializao na regio sudeste do pas, relacionando capitalismo e integrao nacional, como o caso da Rede Globo. Durante o regime, a modernizao da televiso torna-se parte do projeto de desenvolvimento da comunicao de massas por meio da "modernizao conservadora" (PATTO, 2014), conceito que exprime as contradies entre os investimentos, sobretudo, em capital privado nas redes de comunicao e a defesa da moral e dos bons costumes representada na censura. Com o crescimento dos circuitos de comunicao e o aumento do o tv por polticas de facilidade de crdito, possvel perceber o aumento dos espaos nos cadernos culturais de colunas sobre televiso, sobretudo, como crtica ao objeto e escrita sobre possibilidades de futuro para a TV. As fontes utilizadas so Caderno B (Jornal do Brasil), Segundo Caderno (Tribuna da Imprensa), Cartazes da Cidade (Dirio Carioca), Revista da Televiso, o semanrio Brasil Urgente, o alternativo Movimento, Revista UH (ltima Hora) e o Suplemento Literrio (Estado de S. Paulo).
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Bruna Moreira da Silva (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Fontes inesgotveis de propaganda adversa: censura, vigilncia e represso ao teatro porto-alegrense na Ditadura de Segurana Nacional (1974-1988)
Resumo:Esta comunicao tem o objetivo de expor alguns ap...
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Resumo:Esta comunicao tem o objetivo de expor alguns apontamentos de minha pesquisa de mestrado em andamento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O foco da investigao so as prticas de censura, vigilncia e represso empregadas pela Ditadura de Segurana Nacional brasileira contra artistas e grupos teatrais na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O recorte temporal adotado parte do ano de 1974, data que se convencionou tomar como incio do processo de abertura poltica, at 1988, ano de promulgao da nova Constituio Federal que determinou o fim da censura prvia s artes e instituiu a plena liberdade de expresso artstica. A escolha desse perodo se justifica pela carncia de produo bibliogrfica que d conta das atividades teatrais em Porto Alegre nesse momento histrico e sua relao com o tensionamento ditatorial. A partir de estudos anteriores com a documentao do Departamento de Censura de Diverses Pblicas (DCDP) referente produes teatrais do Rio Grande do Sul, constatei que, apesar da abertura poltica, esse perodo ainda foi fortemente marcado por desmandos da atividade censria estatal. Portanto, necessrio questionar os limites da abertura no que diz respeito s restries no campo artstico e compreender a permanncia de lgicas ditatoriais na censura ao longo dos primeiros anos da Nova Repblica. nesse contexto que focalizo meu estudo, compreendendo as conexes entre o teatro e as aes da Ditadura, bem como as especificidades da produo cultural do sul do pas. Para realizar essa investigao utilizo principalmente de fontes repressivas produzidas pelo Estado, tais como certificados do rgo de censura e documentos do Servio Nacional de Informaes (SNI), que demonstram o monitoramento e a vigilncia empreendidos pela Ditadura contra artistas de teatro. Compreendo que as atividades artsticas no geral, e as artes cnicas de modo particular, foram marcadas por constantes ataques liberdade de expresso, pela mutilao de obras atravs da censura e pela perseguio aos artistas colocados sob suspeio. Tais prticas se sustentavam no discurso oficial de defesa da moralidade e dos bons costumes, considerando como propaganda subversiva quaisquer produes culturais que desviassem de seus parmetros. Considero ainda que essa operao no ocorria de modo aleatrio, mas fundamentada na Doutrina de Segurana Nacional, que promoveu uma profunda politizao da perseguio artstica no perodo. na tentativa de vislumbrar algumas respostas para esse contexto histrico de terror, silncios e perseguies que apresento este trabalho.
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ST 03 - Sesso 2 - Sala 03 - Dia 17/09/2020 das 14:00 s 18:00 165t49
Local: Sala 03
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Paulo Csar Gomes (NEC/UFF)
"Estado de Stio": tentativas de censura do filme de Costa Gavras pela diplomacia brasileira
Resumo:No incio de 1973, a Secretaria de Estado foi info...
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Resumo:No incio de 1973, a Secretaria de Estado foi informada pela Embaixada brasileira em Santiago do Chile de que o filme Estado de Stio do cineasta grego, naturalizado francs, Costa Gavras , rodado parcialmente em Santiago, continha referncias hostis ao Brasil. A descoberta provocou uma intensa troca de correspondncias entre o Itamaraty e sua representao em Paris. A exibio do filme j estava sendo anunciada na capital sa, no entanto, o embaixador do Brasil no pas, o general Lyra Tavares, comprometeu-se a tentar impedir a exibio da obra nas telas. A iniciativa do governo brasileiro de tentar censurar um filme estrangeiro no exterior causou bastante constrangimento s autoridades sas, que no tinham o costume de interferir nas produes cinematogrficas nacionais por discordncias acerca de suas abordagens de temas polticos. De acordo com o embaixador, o Brasil era mencionado repetidas vezes como exemplo de pas onde as torturas eram praticadas rotineiramente como mtodo de interrogatrio policial. Causou indignao ao general uma cena na qual um grupo de oficiais do Exrcito brasileiro assistia a uma aula sobre mtodos de tortura, ministrada por um agente norte-americano. Alm disso, foram usadas rplicas das malas diplomticas utilizadas pelo Itamaraty que, no filme, serviam para transportar instrumentos eltricos de tortura e eram mostrados avies da Varig. Com base nessas evidncias, Lyra Tavares buscou reforar, junto ao Quai dOrsay, a contrariedade que o filme havia causado s autoridades brasileiras. O ministro dos Negcios Estrangeiros da Frana, Schumann, enviou uma carta ao Itamaraty, assinalando as dificuldades de seu governo diante do assunto e ressaltando que os poderes das autoridades sas eram muito limitados na questo do controle cinematogrfico, tanto por questes polticas quanto por questes morais. Schumann encerrava a missiva afirmando esperar que tal questo no prejudicasse as relaes franco-brasileiras. O caso, no entanto, no teve maiores desdobramentos. O governo brasileiro, como de se supor, no teve qualquer ingerncia na exibio do filme na Frana. Cabe lembrar que, no Brasil, o filme s foi liberado pela censura na dcada de 1980, porm a cena na qual aparecia a bandeira nacional foi cortada.
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Arthur Gustavo Lira do Nascimento (Universidade Federal de Pernambuco)
De Aruanda a Cmera Vermelha: trajetrias do cineasta Linduarte Noronha
Resumo:Em agosto de 1957 o jornal paraibano A Unio pub...
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Resumo:Em agosto de 1957 o jornal paraibano A Unio publicou em duas partes a reportagem As Oleiras de Olho dgua da Serra do Talhado, trabalho singular do jornalista Linduarte Noronha. Foi atravs dessa reportagem que teve contato com a realidade das mulheres ceramistas da Serra do Talhado, comunidade remanescente do quilombo fundado pelo ex-escravo Z Bento. Dando visibilidade a uma realidade esquecida do Nordeste brasileiro, daquela experincia surgiu uma inquietao em Noronha de fazer um filme documental sobre o tema, que culminou na realizao do clebre Aruanda (1960), considerado por muitos uma matriz do movimento cinematogrfico do Cinema Novo.
Aruanda alcanou o sucesso nacional quando foi exibido durante a I Conveno Nacional da Crtica Cinematogrfica, em So Paulo, ocorrida entre os dias 12 e 15 de novembro de 1960 e posteriormente reapresentando na Bienal de So Paulo de 1961. Como afirma Jean-Claude Bernardet : Vindo das lonjuras da Paraba, Linduarte Noronha dava uma das respostas mais violentas s perguntas: que deve dizer o cinema brasileiro? Como fazer cinema sem equipamento, sem dinheiro, sem circuito de exibio?.
O filme recebeu apoio de dois importantes rgos federais: o Instituto Joaquim Nabuco (IJN) e o Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), parceria que resultou ainda na realizao de outro filme sobre a regio: O Cajueiro Nordestino (1962).
Foi no ofcio jornalstico que Noronha aprendeu a fazer cinema, seja como reprter ou como crtico. Seu olhar de reprter influenciou na sua prtica documental; e como crtico, na formao da linguagem cinematogrfica. Trazendo ento para o documentrio brasileiro um olhar documental-jornalstico, em contraposio aos filmes propagandsticos comerciais que predominavam a esttica documental at meados do sculo XX.
s vsperas do Golpe de 1964, Linduarte Noronha foi ao Rio de Janeiro conseguir uma cmera para a Universidade da Paraba, onde tornara-se professor. Adquiriu na poca uma Kohbac 35 de fabricao sovitica, o que rendeu seu afastamento da instituio e as portas fechadas para uma srie de projetos cinematogrficos, como as adaptaes de Geografia da Fome e Jangada. A histria de Linduarte Noronha e a cmera sovitica narrada no documentrio Kohbac - A Maldio da Cmera Vermelha de Lcio Vilar (2009), que conta com relatos do diretor, falecido em 2012.
Este trabalho pretende analisar a trajetria do cineasta radicado na paraba nos anos 60 e 70, acompanhando os efeitos das investigaes polticas na sua trajetria cinematogrfica durante o Regime Civil-Militar (1964-1985), e sua relao com rgos federais na promoo de um cinema documental sobre o Nordeste.
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Thiago de Sales Silva (Universidade Federal do Cear)
Censura em negociao: as telenovelas da Globo em tempos de ditadura (1969-1971)
Resumo:A presente comunicao se prope a analisar as rel...
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Resumo:A presente comunicao se prope a analisar as relaes mantidas entre a Rede Globo e a Censura Federal durante a ditadura civil-militar brasileira atravs, sobretudo, da censura de telenovelas produzidas pela emissora carioca, entre o final dos anos 1960 e o incio da dcada seguinte. Nos debruamos, assim, sobre o contexto de incentivos estatais que viabilizaram os primeiros anos da emissora no ar, o acirramento censrio aps implementao do AI-5 e analisamos, particularmente, os processos de censura das telenovelas Vu de Noiva (1969) e O Homem que Deve Morrer (1971), ambas de Janete Clair, objetos de intensa negociao entre a Globo e a Censura Federal. Tal anlise fundamental para compreendermos a rpida consolidao da emissora, bem com os percalos atrelados represso empreendida s diverses pblicas, os subterfgios empregados para contorn-los e a lida cotidiana com autoridades dos governos militares. A viabilizao da produo e exibio das telenovelas junto ao aparato censrio se constitui como substancial para a solidificao da programao, a fidelizao do pblico receptor e o fortalecimento econmico de uma emissora que desde de sua inaugurao investiu largamente em fices televisivas. Portanto, a anlise dos processos de censura nos permite compreender, a partir da rotina burocrtica a qual os ttulos eram submetidos, como a avaliao censria acerca da abordagem de temticas consideradas problemticas pela legislao vigente ou mesmo a prpria conduo das narrativas foram, tambm, veis de flexibilizao, graas s articulaes conciliatrias da Globo. Nesse sentido, nos interessa entender, no mbito da produo de telenovelas, as configuraes desse espao de negociao, delimitado por limites demarcados a partir de eventuais confluncias de interesses entre a empresa e a censura. Afinal, como essas estratgias eram acionadas? Quais condies eram impostas emissora? Em que medida as negociaes funcionavam? Essas problemticas norteiam nossa investigao.
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Romulo Gabriel de Barros Gomes (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
"A LINGUAGEM VULGAR E PORNOFNICA": embates entre a indstria cinematogrfica ertica e a censura federal durante a ditadura civil-militar brasileira
Resumo:O presente texto busca suscitar o debate acerca um...
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Resumo:O presente texto busca suscitar o debate acerca uma parcela da produo cinematogrfica denominada pornochanchada produes nacionais elaboradas visando agradar diretamente ao pblico (quase que exclusivamente masculino), marcadas por forte apelo ertico e humorstico, alm dos parcos recursos tcnicos. Frente a elas, questiona-se ento: quais mensagens estas produes ventilariam? O que falariam aos homens sobre temas cotidianos, valores morais, cdigos comportamentais? Viriam elas a influenciar na identidade de gnero e na construo da sexualidade deste pblico? Visando esclarecer estas questes, realizar-se- nesta explanao o trabalho de explorao e cotejo de fontes diversas referentes temtica, a saber, trechos de filmes, crticas cinematogrficas pertinentes aos mesmos, alm de documentos gerados pela censura federal no tocante chancela para sua produo, exibio e exportao. Alm disso, o presente texto apresenta, como foco do seu debate, a trajetria de embates entre estas produes cinematogrficas e a censura federal durante a ditadura civil-militar brasileira. Vistas muitas vezes como inimigas do discurso pblico de moral e bons costumes que representava o estado, estas acarretaram, por parte dos sujeitos produtores, o desenvolvimento de estratgias para driblar a censura federal. Ora estas disputas favoreceram produtores, ora censores, mas no foco destes embates encontrava-se quase que invariavelmente a disputa pela hegemonia discursiva e pelo lugar de fala que tinham como palco a grande tela do cinema e sua reconhecida capacidade como ferramenta de propagao de valores culturais e normatizao de costumes. Para esta anlise utiliza-se como aporte terico os escritos de Michel Foucault, especialmente as suas noes de biopoder, normatividade, controle dos corpos e exerccio de poder. Tem-se ento o objetivo de evidenciar os mltiplos vetores que conformam poderes e contrapoderes, bem como observar como estas disputas marcam corpos, costumes e culturas.
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Mateus Melo dos Santos (University of New Mexico (EUA))
Grupo de Teatro Vivencial e ambiguidades no autoritarismo brasileiro
Resumo:O Grupo de Teatro Vivencial, ativo em Olinda e Rec...
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Resumo:O Grupo de Teatro Vivencial, ativo em Olinda e Recife durante a metade final da Ditadura Militar Brasileira, podia parecer um simples grupo de teatro desbundado, com esquetes obscenas e uma cafonice sem profundidade. Contudo, h no Vivencial uma pluralidade de perspectivas sobre sua atuao e a prpria forma que os seus atores e atrizes viviam. Tudo isso merece um olhar no apenas intuitivo, mas tambm levando em considerao vastas formas de contestao ao autoritarismo presente durante o regime. Esteve sob o jugo a arbitrariedade vertical proveniente do governo, alm de receber as amarras e mordaas apertadas pelos mais diversos mbitos da sociedade brasileira. Dentro do percurso deste estudo, procurei entender a relao do coletivo com a censura tanto sob uma tica estatal burocrtica, quanto socialmente, de maneira informal. O teatro acabou se transformando na possibilidade de se questionar um padro de comportamento muito rgido, devido uma estrutura binria da sexualidade. Mais curioso o fato desse grupo gozar de relativa liberdade de atuao, mas uma liberdade marginal: montaram um caf teatro, o Vivencial Diversiones, e nele quase tudo podia. Interpreto esse cenrio como complexo e ambguo. Quero tambm neste trabalho discutir como funcionava essa espcie de radar instaurado pela Censura. Como critrios e brechas se misturam e se torna difcil pensar em um manual prtico censor. Entre a inocuidade do sistema repressor, a permissividade dos censores de planto e as brechas exploradas pelo Vivencial, a trupe marcou uma gerao que buscava no teatro underground da periferia olindense um cano de escape para uma sociedade que apresentava, com rara flexibilidade, o que se devia gostar, como se devia vestir-se e o que se poderia falar. O pblico era diverso e as paixes tambm. Apesar de aparentar certa ignorncia com o momento poltico da poca, difcil pensar em formas mais amplas de se questionar a arbitrariedade vigente do que as imputadas pelo Vivencial.
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Larissa Virgnia Veiga (Universidade Federal de So Joo del Rei)
"Caminhando, cantando e atuando": apresentaes teatrais de resistncia ditadura militar em Divinpolis, Minas Gerais
Resumo:No Brasil, o incio da dcada de 1960 foi marcado ...
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Resumo:No Brasil, o incio da dcada de 1960 foi marcado por fortes tenses e divergncias no campo poltico. Tais inquietaes culminaram no golpe civil-militar de 1964, que estabeleceu o incio de uma ditadura que se estendeu at 1985. Durante esses anos, foram caractersticas marcantes o autoritarismo e cerceamento das liberdades, todavia, levantaram-se muitas formas de resistncia ao regime, entre elas, manifestaes artsticas ocupam o lugar de destaque. importante considerar que, a maior parte dos estudos que analisam este perodo, so realizados a partir de perspectivas que destacam os acontecimentos ocorridos nas grandes cidades e capitais. Escapando dessa tendncia, este trabalho pretende analisar os movimentos artsticos que se manifestaram em Divinpolis, cidade localizada no centro-oeste de Minas Gerais, durante os anos de ditadura.
Para a realizao desse trabalho, selecionamos algumas tipologias de fontes. Em primeiro lugar, recorremos memria, por meio da realizao de entrevistas com pessoas que compam o cenrio artstico da cidade naquele momento. Com o objetivo de uma anlise sistemtica, cotejamos tambm fontes complementares. Analisamos algumas edies do jornal A Semana, uma publicao semanal ligada igreja Catlica, mas que trazia tambm muitas informaes relacionadas cultura. Por fim, utilizamos tambm fotografias e documentos do acervo pessoal de alguns entrevistados. Para realizar as discusses acerca do conceito de memria, recorremos autores como Maurice Halbwachs e Michael Pollack. Nas discusses acerca de arte, cultura e ditadura, Marcelo Ridenti e Marcos Napolitano apresentam-se como referncias importantes.
O corpus documental analisado at o momento demonstra que, mesmo sendo uma cidade do interior, Divinpolis tambm vivenciou o florescimento de manifestaes artsticas de resistncia durante a ditadura. Destaca-se a realizao da Semana de Arte de Divinpolis, um evento que aconteceu durante o final da dcada de 1960 e ao longo dos anos 1970 e que reunia uma infinidade de atividades culturais. No entanto, daremos enfoque s apresentaes teatrais encenadas no municpio, e como elas podem ser consideradas formas de resistncia. De acordo com as fontes, a vida cultural divinopolitana possua forte atuao dos estudantes, que trouxeram para o municpio muitas peas teatrais reconhecidas nacionalmente, como por exemplo, Abre a janela e deixa entrar o ar puro e o sol da manh, escrita por Antnio Bivar. Em razo da censura, todas as peas precisavam primeiramente ser aprovadas para depois entrarem em cena. Portanto, atravs desse trabalho, analisaremos como a resistncia cultural se estruturou no municpio e sua relao com a censura e represso.
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ST 03 - Sesso 3 - Sala 03 - Dia 18/09/2020 das 14:00 s 18:00 1u5x3c
Local: Sala 03
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Ivan Luis Lima Cavalcanti (Universidade do Porto)
Esta Terra Ainda Vai Cumprir Seu Ideal: Relaes Entre As Canes De Protesto De Portugal E Brasil (1964-1974)
Resumo:O presente trabalho prope como ponto de partida u...
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Resumo:O presente trabalho prope como ponto de partida uma anlise de relao entre as canes de interveno/protesto em Portugal e Brasil no perodo de 1964 1974. Em meados e fins dos anos 60 os dois pases vivenciavam difceis quadros de represso, ditadura e violncia em grande parte os ambientes sociais (no caso de portugus isso j durava vrias dcadas). A semelhana da lngua e as ditaduras no foram os nicos fatores que aparentavam aproximar Brasil e Portugal nesse perodo. No meio artstico, cantautores, pintores e cineastas dessas duas nacionalidades usaram suas obras como ferramentas de resistncias e estabeleceram contatos, trocaram influncias e at produziram conjuntamente. Um dos mecanismos de oposio ditadura e as prticas dos autoritrios governos foram as canes de protesto (de interveno). Nosso estudo busca compreender os mecanismos de produes e trocas dessas canes. Observar os embries daqueles que produziram essas canes nos dois contextos, mapear os que ouviram, absorveram e replicaram (de alguma forma) parte das mensagens emitidas nas canes. Propomos para este trabalho tambm uma breve discusso em torno das letras (e principalmente suas mensagens polticas), melodias como o caso do Carlos Paredes (que muitas vezes nos falam sem palavras: A linguagem no verbal) e uma anlise conjunta de letra e melodia como ferramenta de resistncia poltica. Isso requer entender tambm os mecanismos de circulao dessas canes. Atravs do rdio? dos Shows? dos discos? as letras quando eram lidas sem a audio das canes em folhetins? O Entendimento dessas questes nos levar a certos mapeamentos dos pblicos que consumiram essas canes. A discusso sobre recepo, distribuio e as rplicas ( sua maneira) dos ouvintes so fatores relevantes neste trabalho, alm do poder de mobilizao que elas desempenharam nos quadros de cada um dos pases. Se conhecer as semelhanas essencial para realizar um estudo comparativo, pensamos que tambm fundamental mapear e problematizar as diferenas. Essa amlgama de convergncias e divergncias nas prticas cancioneiras nos levam as categorias de anlise que possam estabelecer um dilogo constante dentro da nossa tese: Brasil X Portugal, Semelhanas X Diferenas de forma dialtica (constante) nesses universo. As categorias propostas para discusso so: Cantores e agentes / Letras e mensagens / Pblicos (Impactos e Rplicas).
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Davi Barbosa Alves (ASCES-UNITA - Centro Universitrio Tabosa de Almeida), Hellen Danielly Soares (ASCES-UNITA - Centro Universitrio Tabosa de Almeida)
Liberdade roubada: a Ditadura pelas vozes de Chico Buarque e Belchior.
Resumo:INTRODUO
A Ditadura Civil Militar instaurada n...
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Resumo:INTRODUO
A Ditadura Civil Militar instaurada no Brasil em 1964 imps uma nova realidade sociedade que, viu-se restrita de suas liberdades e encontra na MPB uma forma de resistncia e crtica alm de, um novo olhar sobre o perodo citado. Analisando algumas composies, em especial de Chico Buarque e Belchior este estudo pretende analisar como a msica se relacionou com o perodo ditatorial no Brasil.
METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho, consiste em realizarmos uma anlise qualitativa e contextualizada com o momento histrico de tais expresses artsticas. Para isto, utilizamos fontes bibliogrficas primrias (as msicas Acorda, amor de Chico Buarque e Antes do fim de Belchior) e referncias historiogrficas que discutem os movimentos de resistncia durante o perodo da Ditadura Militar Brasileira.
OBJETIVOS
Compreender a relao entre a censura imposta pela Ditadura Civil-Militar e as letras de Chico Buarque e Belchior como atos de resistncia.
Analisar a msica "acorda, amor" de Chico Buarque a fora de sua mensagem a partir do duplo sentido e as menes subliminares.
Analisar a msica "Antes do fim" de Belchior como forma de crtica e resistncia ditadura.
DISCUSSO
A Ditadura Civil-Militar instaurada no Brasil a partir de 1964, interrompeu por 21 anos nossa experincia democrtica. A liberdade de expresso era podada deliberadamente e a censura era um fator ativo; as produes artsticas, que o foco deste trabalho, serem que adaptar suas letras para arem despercebidas nos rgos de censura como o DCDP (Diviso de Censura de Diverses Pblicas) e, ainda sim pudessem criticar tanto o governo, quanto a ordem moral vigente. Como forma de resistncia, artistas como Chico Buarque e Belchior buscavam em suas letras propagar uma espcie de contracultura, pois alm de questionar e criticar as autoridades e instituies do regime ditatorial faziam menes para que essa forma de governo chegasse ao fim.
REFERNCIAS
NAPOLITANO, Marcos; CAPELATO, Maria Helena Rolim. Seguindo a cano: engajamento poltico e indstria cultural na trajetria da msica popular brasileira (1959-1969). 1999.Universidade de So Paulo, So Paulo, 1999.
SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. No fio da navalha: ditadura, oposio e resistncia. In: Brasil: uma biografia. So Paulo: Cia das Letras, 2015
SILVA, Alberto Moby Ribeiro da. DA. Sinal Fechado: A msica popular brasileira sob censura (193745 / 196978). Rio de Janeiro: Apicuri, 2008, 2. ED. [1. ED. 1994]
OBERDERFER, Ricardo. O som da resistncia: msica na Ditadura Civil- Militar Brasileira. Orientador: Dra. Samira Peruchi Moretto. 2018. 63 f. Trabalho de Concluso de Curso (8 Histria) - Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapec, Chapec, 2018.
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Rafaela Christi (UNESPAR - Universidade Estadual do Paran)
Caminhando e cantando e seguindo a cano: a presena de questes polticas e socioculturais na cano de Geraldo Vandr
Resumo:A presente comunicao tem como objetivo compreend...
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Resumo:A presente comunicao tem como objetivo compreender a msica como um meio de comunicao na sociedade contempornea. Para isso, a fundamentao terica e as anlises das fontes abordam a cano Pra no dizer que no falei das flores, de Geraldo Vandr, cantor de um dos principais movimentos musicais do Brasil do sculo XX, a MPB (Msica Popular Brasileira). Tal movimento apresentou em suas letras as insatisfaes com a poltica e os anseios por mudanas da nova juventude brasileira at o incio da redemocratizao poltica dos anos 80. No Brasil, a msica popular foi uma importante manifestao cultural que desempenhou um papel essencial na construo da identidade nacional durante o sculo XX. A MPB foi capaz de formar uma frente em oposio ao regime militar ao desenvolver crticas e atitudes que reforavam o ideal de resistncia cultural daquele perodo histrico. Essa formao foi possvel pelo fato de a MPB possuir em sua grande maioria letras engajadas e bem elaboradas. Com o decreto do Ato Institucional Nmero Cinco (AI-5) em dezembro de 1968, ocorreu o fortalecimento da represso no Brasil. A censura musical foi fortemente exercida sobre cantores e compositores que tiveram suas canes proibidas por completo ou ento, parcialmente cortadas. Nos documentos anuais da Diviso de Censura de Diverses Pblicas (DCDP), os artistas da MPB so classificados definitivamente como defensores de uma conspirao revolucionria. Geraldo Vandr tornou-se o principal inimigo do regime militar com a cano Pra no dizer que no falei das flores, que teve sua execuo proibida em todo Brasil. A msica virou um hino propagado pela juventude contra o regime militar. Sendo assim, sua msica pode ser julgada pela censura como recurso para a organizao de protestos e greves, pois, para o Estado, ela continha um significado simblico capaz de provocar, alm de emoo, uma interpretao da realidade poltica e social da populao ainda inerte aos atos cometidos pela ditadura implantada no pas. A partir da dcada de 1970, enquanto ocorria um processo de enfraquecimento da censura para com outros meios, como a imprensa, a censura musical permanecia inflexvel. Em compensao, por volta de 1978, a MPB aparecia como o produto cultural de maior influncia social, dando fora e movimentao ao mercado fonogrfico (mercado que viria a se fortalecer nas dcadas seguintes).
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Roberto Alexandre (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Cultura, Msica e Juventude ao final da ditadura civil-militar: O Festival Rock in Rio e o processo de redemocratizao. (1982-1985)
Resumo:
Cultura, Msica e Juventude ao final da ditadur...
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Resumo:
Cultura, Msica e Juventude ao final da ditadura civil-militar: O Festival Rock in Rio e o processo de redemocratizao. (1982-1985)
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a cultura que emergiu, espontaneamente e especificamente, na dcada de 1980 e foi o mote propulsor para realizao de um megaevento que foi alvo de debates polticos, religiosos e econmicos, dando nfase a vanguarda e o protagonismo da cidade do Rio de Janeiro. Estudo em curso, parcialmente possvel problematizar o impacto que o Rock in Rio foi causa e consequncia, num momento particular e importante para o Brasil: a Redemocratizao. Onde descobriu-se que o jovem brasileiro alm de produzir, consumia.
O Rock in Rio aconteceu ao raiar do ano de 1985, durante dez dias ininterruptos. Onde, entre os dias 11 e 20 do ms janeiro, a cidade do Rio de Janeiro abrigou o primeiro megafestival de msica realizado em territrio nacional. Um divisor de guas cultural; que catapultou o Brasil para a rota do "show business" mundial, afirmando um novo "status" para a cultura jovem brasileira e palco onde foi anunciado o fim da ditadura civil-militar para toda uma gerao. Transformando-se num personagem representativo da recente histria do Brasil, como smbolo de uma gerao otimista com os rumos que o pas indicava depois de anos de ditadura militar, ao ressaltar um novo papel cultural e participativo dos jovens.
Para compreender os signos e significados da juventude da dcada de 1980, o principal referencial terico para a pesquisa a Histria Cultural, como um horizonte onde peram elementos da Histria Poltica, alm de interfaces com a Histria Social. Sob as hipteses de que o Rock in Rio foi capaz de inferir as relaes entre poltica, cultura e juventude no perodo de abertura democrtica no Brasil, onde todo o cenrio existente que deu margem para a criao e execuo do festival transubstanciou-se em mercado, mdia, economia e consumo. Recorremos a fontes udio visuais, documentrios e peridicos da poca, para contrapor em que medida h verdade no senso comum de que tanto a gerao jovem dos anos 1980, como fator e o primeiro Rock in Rio, como consequncia, representam − em alguns discursos − uma gerao narcisista, alienada, egosta, hedonista e pouco politizada.
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George Genesis Alves Gama (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)
necessrio que se coloque um fim nestes episdios que somente desgastam as autoridades: CENSURA MUSICAL versus RESISTNCIA POLTICA no palco do Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador-BA, no ano de 1972
Resumo:A presente comunicao oral resultado de uma pes...
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Resumo:A presente comunicao oral resultado de uma pesquisa acadmica em desenvolvimento no Programa de Ps-Graduao em Histria Regional e Local da Universidade do Estado da Bahia ─ UNEB (Campus V ─ Santo Antnio de Jesus). Nessa esteira, convm salientar, pois imprescindvel, que temos por objeto de estudo os processos polticos de censura musical e resistncia que ocorreram no espetculo realizado por Caetano Veloso e Chico Buarque de Hollanda no Teatro Castro Alves TCA, em Salvador, capital baiana, entre os dias 10 e 11 de Novembro do ano de 1972. A apresentao estava imersa em duas grandes tenses, por um lado colocava no mesmo espao um ex-preso poltico e um dos artistas mais perseguidos do pas, recm-advindos do exlio, e por outro reunia pela primeira vez dois cones marcados pelas rivalidades de duas tendncias antagnicas da Msica Popular Brasileira - MPB da dcada de 1960. Em decorrncia do seu grande potencial comercial a apresentao acabou sendo perpetuada fonograficamente atravs da produo do clebre LP Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo do ano de 1972, que foi fruto de gravaes feitas ao vivo no show. Em virtude de uma documentao sigilosa produzida pelos agentes da comunidade de informaes, encontrada junto ao arquivo digital Documentos Revelados, percebemos que o show foi amplamente monitorado, bem como o processo de produo do disco, visto que quando o material que iria ser gravado foi enviado censura prvia, trechos de algumas canes foram vetados, e por ser fruto de gravaes feitas ao vivo, tiveram que enxertar em estdio palmas e gritos histricos da platia para, assim, obter a liberao. vista disso, propusemo-nos, a uma reflexo e investigao que tem por objetivo compreender como o show e o disco acabaram representando uma ameaa poltica e aos padres morais e comportamentais vigentes durante o perodo da ditadura civil-militar brasileira, desencadeando, por conseguinte todo um processo de censura apresentao, aos cancionistas e, especialmente, as canes que foram por eles exibidas. Em relao s fontes, valido destacar que trabalharemos com um corpus documental bastante diversificado, mas que se complementam perfeitamente, portanto, para alm da documentao sigilosa, iremos, do mesmo modo, nos valer da vasta memorialstica produzida, dos peridicos e canes da poca, e, tambm, de relatos orais, pois a proximidade histrica e a grande quantidade de pessoas envolvidas do-nos est possibilidade.
Palavras-chave: Censura musical; Ditadura civil-militar brasileira; Msica popular brasileira MPB.
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Leandro Braz da Costa (UFSM)
Jangou, Jangou, Jangadeiro foi pro mar. Trajetrias musicais e cano popular.
Resumo:A produo musical autoral de artistas desvinculad...
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Resumo:A produo musical autoral de artistas desvinculados dos meios de comunicao de massa, do mercado cultural e da indstria fonogrfica foi infimamente explorada pela historiografia da msica brasileira. Este cenrio desfavorvel no desenvolvimento de pesquisas que abarcam a utilizao de canes como fonte para a escrita da histria tem contribudo significativamente para a estagnao e, em alguns casos, at mesmo o retrocesso acerca das experincias e prticas socioculturais de msicos, intrpretes e compositores que contriburam para a construo da histria da msica popular no Brasil. Neste sentido, observando o pluralismo cultural manifestado nas canes deste gnero musical no contexto da realizao de festivais de msica organizados por estudantes universitrios e secundaristas, ao longo da dcada de 1970, na cidade de Rio Grande-RS rea de Segurana e Interesse Nacional este trabalho prope expor analiticamente o contedo de algumas canes autorais produzidas na poca, tendo em vista, a polarizao poltica verificada e refletida atravs das concepes sociais de seus compositores, manifestadas atravs do conformismo e resistncia em face ao complexo quadro de represso poltica e cerceamentos em detrimento das manifestaes culturais artstico-musicais, assinalando aspectos relacionados s faces desburocratizadas e formas alternativas de imposio da censura, que levaram a cabo o silenciamento sumrio de inmeros intrpretes e compositores no decorrer da Ditadura Civil-Militar brasileira. O trabalho ainda apresenta, de forma breve, algumas formas e estratgias utilizadas pelos compositores da poca, no intuito de obter a oportunidade de apresentarem suas canes nestes eventos musicais, em razo da censura prvia e a posteriori, bem como, devido presena sempre atuante de lideranas do aparato repressivo que compunha o corpo de jurados dos festivais.
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Leon Kaminski (Universidade do Estado de Minas Gerais)
Teatro, drogas e ditadura: a priso do Living Theatre em Ouro Preto (1971)
Resumo:Em julho de 1971, no auge da violncia ditatorial ...
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Resumo:Em julho de 1971, no auge da violncia ditatorial no Brasil, foram presos os integrantes do Living Theatre, renomado grupo internacional de vanguarda, quando se preparavam para participar do Festival de Inverno de Ouro Preto, em Minas Gerais. Pioneiros do teatro off-Broadway, na Nova York dos anos 1950, criaram coletivamente o espetculo Paradise Now, um dos marcos daquele do efervescente ano de 1968. O grupo liderado por Judith Malina e Julian Beck veio ao pas a convite da Jos Celso Martinez para um trabalho em conjunto com o Teatro Oficina, de So Paulo, e o Grupo Lobo, de Buenos Aires. Aps a frustrada parceria, seguiram para Minas Gerais, onde pretendiam estrear O Legado de Caim, cuja ideia era que fosse encenada ao longo de trinta dias pelas ladeiras de Ouro Preto. O objetivo deste trabalho analisar a priso do Living Theatre no contexto do crescimento da represso do regime no campo moral e cultural, utilizando como fontes a documentao dos rgos de represso e de informaes, publicaes na imprensa e o processo judicial do caso. Iniciou-se no pas, no final de 1969, a partir de anlises do Servio Nacional de Informaes (SNI), uma onda coercitiva sobre os hippies e usurios de entorpecentes, apontando supostas relaes com o comunismo internacional. Nessa perspectiva, acusados de uso de drogas, o grupo foi detido pela Brigada do Vcio, setor do DOPS/MG especializado no combate aos txicos, criado em 1970. A priso da trupe provocou grande repercusso no exterior, inclusive com uma campanha internacional pela sua libertao, encerrada com sua expulso do pas. Embora pouco presente na historiografia sobre o perodo, esse caso foi um dos momentos relevante da represso do regime classe teatral e, em especial, aos movimentos de contracultura, merecendo um olhar mais atento sobre o seu processo.
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